28.9.12

Juntos na Rocha!

"Portanto, todo aquele que ouve minha palavra e a pratica, será semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. A chuva desceu, os rios transbordaram, os ventos sopraram e deram contra aquela casa; contudo, ela não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.” Mateus 7:24-25

24.8.12

Sem graça nenhuma!

Amor ou dinheiro?


Porque é que as mulheres hesitam tanto em escolher um namorado e depois escolhem sempre um tipo que tem emprego, casa e carro? Hmm, porque será? Posso arriscar uma resposta: Entre um homem que anda a pé e outro que tem carro, quem é que acham que elas vão escolher?
Não estou a vê-las a dizer à melhor amiga: "Ai 'miga, adoro tanto quando saio do trabalho e o Necas está à minha espera na paragem do autocarro quando está a chover!"
Quem escolhe dinheiro e conforto é só isso que recebe.

Roupa Branca!

Aldeia da Roupa Branca (1939).
A imagem da mulher portuguesa no tempo de Salazar: Boa trabalhadora, pouco escolarizada, rural, risonha e cantadeira, pobre mas feliz. Uma mulher que não precisa mais do que aquilo que a natureza (leia-se 'O Estado') lhe dá - a felicidade do seu trabalho doméstico, a alegria de ganhar o pão de cada dia com o suor do seu rosto. 70 anos depois a mulher portuguesa saiu do campo, foi para a cidade e passou a lavar a roupa na máquina de lavar enquanto tira fotos com o Iphone e coloca-as no Facebook.
Tempos modernos. Ou nem por isso.
Tanto nesse tempo como agora no Facebook, as mulheres lavam sempre a roupa suja em público.

The Dark Knight Rises (2012)

Marion Cotillard.
A melhor razão para ver o novo Batman.

22.8.12

Medieval!

Por água abaixo!

30.5.12

Melancolia

O filme mais «tenso» que vi este ano. Este filme é um pesadelo lindíssimo, um sonho depressivo sufocante. E com um final aterrador. Kirsten Dunst: palma de ouro para melhor actriz merecedíssima! Lars Von Trier só me traz pesadelos, raios o partam! No início estranha-se mas depois entranha-se. Esqueçam o filme 2012. Melancholia é o verdadeiro filme apocalíptico - consegue mesmo entrar-nos dentro da pele. Sim, tem muitas partes chatas e depressivas, mas acredito que ninguém vai conseguir esquecer os últimos 20m do filme. O «fim». O maior pesadelo de todos é o fim. O que fazer quando tudo acaba? 

24.5.12

Desenhos do Rui Pedro Soares

Sou amigo do Rui Pedro há mais de 20 anos. Fomos colegas de turma, amigos irreverentes tipo Tom Sawyer e Huckellberry Finn e cinéfilos do cinema de terror desde tenra idade. O Rui Pedro é a pessoa mais talentosa que conheci em toda a vida e os seus desenhos que, com grande orgulho, publico neste blogue são a prova disso: Perfeitos em toda a linha. A lembrança mais antiga que tenho dele é uma imagem em que toda a turma e professor incluído estão parados a vê-lo a desenhar. Não é preciso dizer mais, pois não? Enjoy :)
Visitem o site dele aqui.

19.5.12

Carinho especial? Está bem, está!

Detesto mulheres que estão sempre a dizer às amigas que «ainda sentem um carinho especial por ele»: um ex-namorado, um ex-marido, um ex-qualquer coisa. Desde quando é que um amor passa a carinho especial? E quando é que passa de carinho especial a simples amizade? É como passar de cavalo para burro. Há ainda quem passe de amor diretamente para a amizade e sem passar pela casa partida e recolher os 20€! É como passar de cavalo para andar a pé, sem passar pelo burro. Tenho para mim que uma mulher que sente um carinho especial por alguém que 'supostamente' amou, é porque nunca sentiu por ele mais do que isso: um carinho especial.
Haverá palavra mais odiosa do que carinho especial? Carinho especial sinto eu por um cão ou por um gato. Sinto por eles carinho suficiente para não os deixar dormir na rua. Mas não consigo sentir um carinho especial por uma ex-namorada. Amei-as e prefiro ignorá-las ou ser indiferente à vida patética que levam a sentir carinho especial por elas. Sinto carinho por elas, muito carinho, como se fosse um lembrete dum amor que existiu, mas não sinto um carinho especial.  
Carinho é uma lembrança verdadeira. O carinho especial é uma lembrança magoada dum amor que ainda não está esquecido. Carinho é amor. Carinho especial é a negação desse amor.
Desculpem lá: um amor, grande ou não, pode até acabar mas não pode acabar em carinho especial.  Não é um patamar ao qual o amor deva «descer». Não pode.
E o que é o carinho especial? Para elas é aquele sentimento que fica depois dum amor que se partilhou, uma pequena lembrança saudosa dos bons momentos que passaram juntos e outras tretas. Para eles não há carinho especial. Há amor e o fim desse amor. Há saudade, há querer voltar atrás, querer esquecer, querer seguir em frente, querer que ela se foda, mas não há carinhos especiais. Nenhum homem com os tomates no sítio sente qualquer carinho especial por uma ex. Ou ama-a ou odeia. Já viram dois «ex's» quando se encontram? Parecem dois mágicos a fazer truques de cartas um ao outro. Para quê? Já conhecem os truques todos. Já sabem qual é a carta que vai sair. Já não me lembro de ver um azedume na rua, uma má cara ou um semblante carrancudo por parte de dois amantes. Toda a gente quer seguir em frente e não sofrer, porque não vale a pena sofrer quando o melhor é fazerem as pazes e serem amigos. Está mal. Está muito mal.
Adoro o carinho, como se fosse um amor pequenino ou servido em doses pequenas, como beijinhos, abracinhos e outras meiguices. No carinho especial  não há meiguice - há pieguice.
Quero deixar aqui bem explicito que odeio o tal carinho especial. Prefiro o bom e velho rancor ao carinho especial. Prefiro um «vai-te foder» a um «então como estás?». Eu nunca disse, nem nunca ouvi nenhum homem dizer que «ainda sente um carinho especial» pela sua «ex». E porquê? Sentir um carinho especial por quem se amou mais do que a própria vida é desonrar esse amor. Não há pior insulto para um homem do que ouvir duma mulher que supostamente o amou, que ainda sente por ele um «carinho especial». É pior do que lhe tivessem chamado cabrão ou corno.
Prefiro que as minhas ex me odeiem e me guardem rancor para o resto das vida delas, do que sentirem um carinho especial por mim e queiram ser minhas amigas. Nunca vamos ser amigos de verdade. Nunca. Ponto final. Depois do amor não pode haver amizade. Uma coisa não leva à outra. A minha ex de vez em quando telefona-me e vamos tomar café. Chama-me sempre "migo" e diz que sou o melhor amigo dela, mas a verdade é que não sou. Tou a cagar-me. Apaixonei-me por ela e nunca quis ser, nem nunca serei, amigo dela. A paixão existe, a amizade não.
Quando acaba uma relação entre duas pessoas que se amavam e elas tornaram-se amigas depois é porque nunca foram mais do que isso. A verdade vem sempre ao de cima. Ou não?

13.5.12

O que faz uma alma?

(Texto escrito em 1999. Foi um começo como cronista amador (só tinha 22 anos), muitas gralhas, demasiados pontos de exclamação, muita filosofia de ponta, uma escrita demasiado pretensiosa pela qual todos os jovens cronistas gostam de impressionar os outros. Engraçado é que ainda não me envergonho de ter escrito este tipo de lamechices, visto que nunca deixei de ser um cronista amador). 

A cidade acordou triste, remelenta e procurando o sol descobriu que este, envergonhado, escondera-se timidamente atrás dumas núvens cinzentas que se espraiavam pelo céu. Está na hora das pedras da calçada começarem a chorar e benevolamente juntarem as suas lágrimas às que as núvens ameaçam derramar sobre a Terra. Chorar é como chover - ninguém gosta mas é preciso! De vez em quando! Faz bem, porque não pode chover sempre... Nem chorar! Mas faz bem.
É sinal que a Alma está boa de saúde e está pronta a obrigar a puxar as pessoas pelo lenço. Nem que seja por um segundo! Milhares de lágrimas convertem-se num segundo de líquido que escorre pela cara misturando-se com as carnes ruborescidas que teimam em sorrir. Não se pode (nem tem importância) fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
Uma alma sozinha é sempre mais chata do que uma alma acompanhada. Mais chato do que estar sozinho é estar triste.
Não conheço nenhuma pessoa que andando sozinha não ande sempre trombuda - com a alma na tromba! Andam sempre com a alma estampada na cara, como aquelas pessoas que vestem Nike. Uma alma é uma «coisa de marca». Pode ter sido inventada por alguém mas somos nós que a usamos. Somos sociáveis mas no minuto em que nos apanhamos a sós, temos uma chata duma alma para nos fazer companhia.
A alma é mais solitária que o homem - precisa dele! Para viver. Para ter sentido. Para respirar. Já ouviram falar em almas amigas? Eu só conheço almas gémeas. Do mesmo óvulo. É preciso ter um bocado de sorte para se encontrar a nossa alma gémea. Para além de serem almas, é horrível terem que ser gémeas. Como se uma só não bastasse.
Não há almas bonitas ou belas. A alma tem uma beleza (e não pode deixar de tê-la) que não se vê mas se sente. É uma brisa. Passa por nós e não nos deixa indiferentes.
Uma pessoa é uma casa que a alma aluga para viver para sempre! A tristeza e a solidão são o recibo de condomínio! Porque a solidão é sempre fria, a alma é um cobertor que aquece o corpo e o protege. Os sentimentos são aquecedores sentimentais, cobertores que conseguem cobrir inteiramente a zona cardíaca contra os choques solitários.
Uma alma trabalha muito, sem parar e só tira folga quando uma pessoa começa a amar. O coração entra em actividade e a alma finalmente pode tirar umas férias merecidas. Há como que um sistema rotativo de mudança de turnos: " Um coração quando amamos e uma alma quando estamos sozinhos!" A coração quer amar e a alma quer ser amada. Simples?
Porque será então que quando se ama, anda-se (repare neste verbo hediondo) com o coração nas mãos e anda-se de alma perdida? Um coração assustado esconde-se logo nas mãos (se possivel nas da pessoa amada) e um alma assustada o que mais quer é fugir para longe e perder-se (se possível, o mais longe da pessoa amada). A alma e o coração, o que são afinal? 
Uma alma é um autocarro vazio numa hora de ponta. Olha para fora, vê as pessoas; olha para dentro e só se vê a si mesma. A solidão é o condutor do autocarro. Deixa entrar toda a gente, mesmo sem bilhete. Uma alma é um autocarro para o passado, para o que perdemos, para o que não fizemos, para quem deixamos. Dá-nos a volta! Um coração é um avião, de tanto voar, só aprendeu a andar nas núvens, olha para o nosso amor cá em baixo e diz adeus com as asas.  A solidão é a pista de aterragem, quando o coração cai na "realidade". Uma alma olha para os outros e procura uma alma parecida consigo. Um coração já escolheu quem quer e só quer chamar a atenção dessa pessoa. Uma alma vive de fora para dentro. Um coração vive de dentro para fora. Um alma para trás. Um coração para a frente. Uma alma é sempre saudosista e um coração é sempre sebastianista. Nenhum vive para o presente. Essa é a função do cérebro, um órgão que não é para aqui chamado. Uma alma é conservadora; um coração é liberal. E por aí fora.
Um alma vê sempre tudo a preto e branco o coração vê tudo colorido. Para ele, o preto e o branco também são côres, mas mais feiotas e a evitar.
Uma alma quer tudo.
Se tivessemos só um minuto de vida, a alma ocuparía logo 59 segundos.  O outro segundo, a alma dá-o ao coração, mas se ele não o gastar logo, ela toma-o de volta para si, e outro e outro, o mais que puder, porque pensa que são todos iguais. Não é verdade. Num minuto de vida, há 60 segundos todos diferentes uns dos outros, todos com ciúmes uns dos outros. Enganem-se amigos. Um minuto não são 60 segundos iguais: há segundos de saudade, segundos de tédio, segundos de alegria e por aí fora.  Entre o 23º e o 24º segundos, há um ódio antigo que faz corar todos os outros segundos mais cortesãos. A alma é mais possessiva: quer todos os segundos duma vida só para ela e, com mal disfarçada pena, lá se compadece de dar o último dos segundos ao coração, que o agarra logo nas mãozinhas tremelicantes e com genuína alegria o gasta logo para pensar no seu amor perdido.
Uma alma guarda. Um coração gasta. Uma alma poupa, porque tem medo de perder. Um coração dá, porque não tem bolsos e se os tem estarão certamente rasgados e os segundos vão todos cair ao saco meio-vazio/ meio-cheio da alma.
Um coração que consiga amealhar muitos segundos, usa-os todos de maneira diferente. A alma gasta-os sempre na mesma coisa: em saudade. O coração gasta o tempo que tem a olhar para a frente; uma alma a olhar para trás. Por isso procura o coração e não o encontra. É que o coração é um orgão mesmo à frente!
Uma alma e um coração lutam pelo poder sobre as nossas vidas. Um coração pensa que sozinho chega lá e que basta um só segundo para ser feliz. A alma é mais recatada e pensa que precisa de muito tempo para pensar e avaliar a sua vida e precisa sempre de ajuda antes de tomar qualquer decisão. Se fossem indivíduos, uma alma é uma pessoa que está sempre à espera dum salário ou de um subsídio e só quer o que é justo. Sobretudo não quer perder o que acumulou toda a vida. Um coração, muito trabalhador ou muito preguiçoso, não se importa de trabalhar de graça. Uma alma acumula; o coração gasta tudo o que tem.
Uma alma é uma velhinha sentada numa cadeira de baloiço a fazer renda junto à lareira. Não se importa se está bom ou mau tempo. Um coração é um míudo de 10 anos a brincar na rua, uma fisga num bolso, caracóis e chiclas no outro, testa suada, joelho a sangrar com lenço amarrado e bicicleta ao lado de pernas para o ar. Uma alma tem medo de apanhar frio e se constipar. Um coração mesmo doente trabalha sempre.
Uma alma faz pela vida. Mas não a vive. Um coração limita-se a viver. Mesmo às vezes sem fazer nada por isso. Um alma envelhece muito mais rápido e em certos casos já nasceu velha. Um coração pensa que vai ser jovem para sempre.
E não é que vai mesmo?

Mediocridades!

Em Portugal, nunca morre ninguém medíocre ou banal. Não há um escritor insignificante, músico mosca morta ou poeta entediante neste país. São todos excelentes. Quando batem a bota, é costume dizer-se que «foram a voz da sua geração» ou «um talento sem igual» e que, estranhamente, por terem falecido de forma injusta ou partirem «demasiado cedo» (um clássico!), «o país ficou mais pobre» (outro clássico). Em Portugal não há ninguém banal.
Gostava de ver, por uma vez que fosse, num Telejornal, um apresentador a dizer: "Hoje morreu o escritor fulano de tal, mas nunca escreveu ou publicou nada de jeito! E agora o estado do tempo para o fim de semana!»

6.5.12

Não faltam mulheres!

Ela disse que não queria ir tomar café comigo porque estava «mau tempo».
Não faltam mulheres, querida!
Não faltam mulheres.

Medo? Aproveitem!

O objectivo dos telejornais é meter medo. E o medo leva ao consumo. Os Mass Media, o poder económico e o poder político (a verdadeira Troika que sempre mandou neste país) têm a faca e o queijo na mão e conhecem muito bem a populaça que os elegeu para governar. Sabem, sobretudo, que a populaça detesta ser pobre e, como tal, conhecem todos os fantasmas duma população pobre, analfabeta e envelhecida: Medo do desemprego, da crise, da pobreza, do crime, da solidão e da morte, que é o que faz gerar a economia.
E as pessoas com medo fazem tudo para não viver com esse medo.
Inclusive fazer o que lhes mandam: viver uma rotina de medo, de desespero sorridente.

No final do dia, quando toda a gente chega cansada a casa, do trabalho, e começam a ganhar coragem para tentar mudar de vida no dia seguinte, é precisamente nesta hora que ligam a tv para ver o telejornal. E é aqui que começa o medo: Desemprego, Fome, Depressão, Crime, Crise, Solidão, Morte.
Depois de ver um telejornal toda a gente pensa exatamente isto: «A minha vida, afinal, não é assim tão má, há tanta gente pior do que eu, e eu ainda me queixo...Bem, vou mas é fazer umas compras!»

O medo vence sempre.
E o medo leva ao consumo. 

1.5.12

30.4.12

Força, Miguel, tem fé!

O que se faz quando sabemos que o amor da nossa vida vai morrer? 
 Miguel, és um grande escritor, um grande homem, um homem duma grande coragem em escrever e publicar isto. Que Deus vos ajude.
(clicar na foto para ampliar)

A nossa canção

O SMS que me mandaste dizia somente que estavas a ouvir a nossa música: Going Under, dos Evanescence. Não pedias resposta e também não respondi. Fiquei a pensar.
Ponho o cd a tocar e aos primeiros acordes de Going Under, estou a imaginar-te deitada no sofá, onde um dia estivemos a ouvi-la, juntinhos, eu a olhar para ti, tu para mim, a ouvir a tal «nossa canção». Sempre nos rimos do facto de a «nossa música» ser tudo menos romântica. «Somos tão parvos», dizias. Eu bem te dizia que eras parecida com a Amy Lee, a vocalista. Tu dizias que não, que eras mais uma espécie de Pocahontas Gótica. Rimo-nos que nem perdidos.
Agora estou a ouvi-la e a pensar em ti.  Mas não te vou dizer. O segredo de partilhar uma canção é pensar que a outra parte já a esqueceu. 

Going Under é nossa. Eu sei. Mas não quero que saibas que eu ainda me lembro da nossa canção. Quero mentir-te e dizer que não faço a menor ideia do que estás a falar. Não me quero lembrar. Não quero saber.
Quero, sobretudo, esquecer que a nossa música é sobre um amor que nunca chegou a acontecer.

Pelo sim, pelo não, vou mandar-te um smile num SMS. E como tu sabes bem, um smile, no fundo, não quer dizer nada e, ao mesmo tempo, é a melhor resposta para tudo.

Em nome do amor puro

Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.  
O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.  
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.  
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há,estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?  
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina.
O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.
O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.
Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um minuto de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também. 

Miguel Esteves Cardoso, in Último Volume, Assírio & Alvim, 1991, págs 75-77.

Pegadas na Areia

Uma noite eu tive um sonho.
Sonhei que estava andando na praia com o Senhor e, através do céu, passavam-se cenas da minha vida. Para cada cena que se passava, percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia; um era meu e o outro, do Senhor. Quando a última cena da minha vida passou diante de nós, olhei para trás, para as pegadas na areia, e notei que muitas vezes, no caminho da minha vida, havia apenas um par de pegadas na areia. Notei também que isso aconteceu nos momentos mais difíceis e angustiosos do meu viver.
Isso entristeceu-me deveras, e perguntei, então, ao Senhor: "Senhor, Tu disseste-me que, uma vez que eu resolvera te seguir, tu andarias sempre comigo em todo o caminho, mais notei que, durante as maiores tribulações do meu viver, havia na areia dos caminhos da vida apenas um par de pegadas.
Não compreendo porque, nas horas em que mais necessitava de ti, Tu me deixaste".
O Senhor respondeu-me:
"Meu precioso filho. Eu amo-te e jamais te deixaria nas horas da tua prova e do teu sofrimento: Quando viste na areia apenas um par de pegadas, foi exactamente aí que Eu te carreguei nos braços".



27.4.12

Rio

Sempre fui recebido no Brasil de braços abertos.
Cidade maravilhosa.

Oceanos de tempo!

"I've crossed oceans of time to find you!"
   Bram Stoker's Dracula, de Francis Ford Coppola, 1992.

25.4.12

Perdida

Perdida num sonho que morreu. 

Ainda não esqueci

Nunca hei-de esquecer a primeira vez que uma rapariga me disse que me amava. E também nunca me hei-de esquecer de ter fingido que não ouvi.

Querido diário

Excerto do Diário de um velho de 82 anos. Página 278.

Sinto que estou a morrer, agora que não consigo fazer sexo. Perdi a tusa toda já lá vão 20 anos, desde a queda do muro de berlim que se me caiu a gaita também. O meu coisito está mais murcho e seco que uma passa do algarve. Sempre que o exponho ao sol, ele esconde a cabecita para dentro da carapaça qual uma tartaruga assustada. Longe vão os tempos áureos em que este idoso e diabético mangalhito era um fenomenal caralhão assustador de multidões, pai de todos os exibicionistas, robusto instrumento que só encolhia em dias de forte nevão ou quando se lhe dava uma marretada na cabeça. Demorava sempre duas horas a perder o tesão depois do acto sexual, tal era a pujança do guerreiro - o meu último dos moicanos - e agora, para vê-lo com certo volume, tenho de tomar aquelas pastilhas azuis ou esperar que o vento esteja a soprar de norte.
A minha reforma vai inteira para o viagra, que tomo dois por dia e que espero levar para a cova, isto é, se conseguirem fechar o caixão!
Que saudades do tempo em que a simples passagem duma rapariga bonita era o suficiente para o meu moço rasgar as calças e vir cá para fora rugir como aquele leão da MGM. Passava horas ao espelho, admirando cada contorno e curva, cada veia saliente do meu hercúleo bacamarte, que tinha sempre dois fieis seguidores e admiradores, dois grandes e sumarentos colhões, dois rebentos de sabedoria e esperança demográfica, agora transformados em duas uvas passas peludas. Não eram testículos - eram os meus moços, bons lacaios, dois tomatões, duas melancias reprodutoras que batiam recordes de peso em qualquer campeonato regional agrícola. Eram de facto tão pesados que nos primeiros 30 anos da minha vida nunca consegui caminhar numa posição completamente bípede. Na escolha chamava-me o «curvadinho».
Pois estes dois grandes rochedos casamenteiros, acompanhados pelo meu farol de Alexandria de 29 cm, especialmente este último era objecto de admiração das mulheres da minha aldeia, que lançavam longos assobios quando passavam por ele, sim, ele, o meu Sancho que me auxiliava quando lutava contra moinhos vaginais...
Belos tempos esses. E ainda perguntam porque é que nunca casei.

Excerto do Diário do mesmo velho, agora com 90 anos. Página 324.

Pronto. Agora é que não tenho mesmo força na gaita. Fogo! Antigamente é que era, nem precisava de sair do sofá para mudar de canal da televisão. E a televisão nem tinha comando.
Ao menos vou ficar na história por ter inventado nos anos 30 o famoso jogo popular «a subida ao pau». Viagra? Nem me falem em viagra...agora a única coisa dura em mim são os meus joanetes. Agora sería preciso 3 caixas de pastilhas azuis para içar esta vela ao vento...
Quem me dera ter outra vez 20 anos.
Quando eu era novo, bastava um simples comprimido azul e quando fazia atletismo, mesmo a correr em quarto lugar conseguia sempre ser o primeiro a cortar a meta.
Era tão famoso.
E feliz.

(1999).

Morreu? Então e o filme?


Interior. Sala. Homem ao telefone.

"Estou? Está lá? É da casa da....ah, não está!...Saiu?....Quem fala?....Ah, é a mãe..... O quê? Ela morreu? Não me diga?!...Quando?.... Ontem à noite? Olhe, que pena, porque eu tinha combinado com ela ir ao cinema hoje às duas e meia e agora não sei o que fazer aos bilhetes... Como diz?...Pois é melhor tentar vender o dela....hum.... pois, há sempre alguém que compra... Então, ela morreu de quê, diga lá? Acidente de trânsito! Ah, foi contra um camião TIR....pois....pois.... há uma lei da estrada para cumprir, é isso....ir a 200 km à hora parece um bocado demais, pois é....estou a ver, estou a ver....pois, o álcool é nisso que dá também, só porque o namorado já não lhe ligava nenhuma... que pena, pois é.... Olha, a irmã dela se calhar é que podia vir, o bilhete já está comprado....Não, a outra, a mais bonita, sim a que tem umas grandes mam......pois...também vai ao funeral, está certo....faz sentido...pois, é irmã, está no sangue....E a prima?...ah também vai....pois é, isso é que é uma família unida, hã, sim senhor....Não, de facto, lamento imenso, olhe, isto também não está fácil,  não consegui arranjar convites para a antestreia, você sabe como são estas coisas dos cinéfilos, é tudo uma máfia do caralho, isto quando é para ir ao cinema à borla....pois, estou a ver...Olhe, isso dos funerais demora muito? Ainda podia trocar os bilhetes da tarde para a última sessão, se calhar era melhor, dava para a sua outra filha espairecer as ideias...Pois, é melhor não então... Ah, está farta de chorar...pá, íamos ver uma comédia, era o mais indicado nestas alt.....Olhe, e onde foi o acidente? Mesmo no meio da ponte? Acho que me lembro disso, ontem vinha do cinema para casa e por isso é que ninguém conseguia passar... Estava tanta gente, uns ao telemóvel a tirar fotos e tudo e pensei logo «olha, mais um maluco que parou o carro a meio da ponte para fazer bungee-junping, não arranjam trabalho depois metem-se nestas coisas».... Estou a ver... Devia ser ela... Não, não dava para ver quem era, a frente do carro estava toda metida dentro do camião....Pois, vai para a sucata...Olhe, o camião também não ficou em muito bom estado, aquela frente vai precisar cá duns arranjos....pois... pois... os seguros pagam tudo....Ei, não me diga, a ambulância demorou meia-hora a chegar ao local? Eu vi logo, eles vêm a ouvir o relato ou lá o que é essa merda e prontos....sabe, foda-se, é isto que me revolta, a indiferença das pessoas hoje em dia, não há um gajo que pare hoje em dia para socorrer ninguém...não há um cabrão que deite uma mão a alguém neste país de merda.... Sim, sim....mas olhe uma coisa, o que é que lhe deu para sair de casa à noite? Hã...uma briga com o namorado, estou a ver... Andava com outra, pois elas agora vêm com cada decote, estão mesmo a pedi-las, parecem hienas no cio.... Pois, ela de facto andava um bocado em baixo...veja lá, eu até a convidei para ir ao cinema... pois...estou?
Estou? Está lá?...."

Homem olha para o telefone e pousa-o na mesa da sala. Senta-se no sofá e liga a televisão.
Fim.

(1999).

Sem ti

O mundo vai acabar. E eu ainda continuo sem ti. Ainda bem que o mundo vai acabar.

Com essas mãos

Gosto das tuas mãos, que adormecem na minha cara, embalam o meu sono. Dormem comigo, juntinhas a mim, aproveitando as horas solitárias da noite para me contarem uma história que já sei de cor e salteado. Começa sempre da mesma maneira.
Essas mãos começam por beijar-me os ombros, descansam na minha cara e depois percorrem-me o corpo todo até se cansarem de felicidade. Depois afagam-me o pescoço, descem pelas costas abaixo e espetam-me um punhal dourado que comprei especialmente para ti.
Deitado no chão, esvaindo sangue, ouço a tua voz como se me falasses de longe, de outra época, numa memória que não consigo situar, pedindo-me desculpa uns segundos antes de desferires outro golpe, desta vez mesmo no peito, 3cm abaixo do coração.
Nem sequer pontaria tens, que inútil que me saiste.
"Prometo que é a última vez que te mato", ainda consigo ouvir entre as punhaladas fatais.
"Eu sei", respondo, olhando para as mãos dela, que reviram a faca no sentido dos ponteiros do relógio, para que a ferida nunca mais feche, "esta também é a última vez que morro por ti".

(1999).

Hoje acordara com um beijo!

Hoje acordara com um beijo. Não um, nem dois, nem três, mas com um só beijo. Nesse momento em que os seus lábios refrescaram-se com o doce sabor vindo de lábios invisíveis, acordou do seu sonho de amor e paixão com que adormecera nessa noite. Como dormira fora de casa, deitado no jardim, as suas lágrimas secaram com o vento quente da noite, que viera embalar-lhe o sono, vindo depois a geada e o orvalho fazer-lhe companhia, matanto as saudades que nunca teve do seu amor. Com um beijo, acordara para o mundo e o seu amor renascera como uma bola nas mãos de uma criança.
Com a cabeça pousada sobre a relva, ouvindo nada mais do que o bater do seu coração, abriu os olhos e viu uma núvem cinzentona que pairava sobre si como um abutre sobre uma carcaça.
Depois sente a relva húmida que lhe gela as costas e fazendo um esforço para levantar-se, olha em redor e descobre que o beijo invisível que o fizera acordar para o mundo, enquanto dormia deitado na relva do jardim, foi simplesmente a gosma dum caracol que deslizava descontraído pelos seus lábios.

(1999).

Adoro-te!

"Adoro-te, mesmo quando dizes que ninguém gosta de ti", disse-lhe eu, com voz tremida, segurando a mão dela, dançando ao som de «Another night in» dos Tindersticks. "Quem me dera que o meu namorado fosse como tu", suspira ela, colocando a cabeça no meu ombro esquerdo, "mas tu não tens hipóteses nenhumas contra ele", rematou, dando-me um pequeno beijo tímido no pescoço. Fecha os olhos e diz, abraçando-me com força agora: "nem nunca terás!"
Separamo-nos. Ela dá meia volta sobre si mesma, sempre agarrada à minha mão e juntamo-nos outra vez, agarradinhos. Agora estamos os dois a sorrir um para o outro.
"Fica sabendo que o amo muito", diz ela, ficando séria de repente. Olho para os olhos dela. Estão tristes, um segundo depois começam a brilhar, ela ri-se e um segundo depois estão tristes outra vez.
"Então", hesito eu, contemplando uma garrafa de vodka perdida no chão - "quer dizer que não tenho hipótese nenhuma?"
Abraçamo-nos outra vez.
"Não. Nunca terás."
Abraçamo-nos outra vez, ainda mais forte. Não consigo respirar.
"A música está quase a acabar".
"Pois está".
"Só mais um bocado?"..
"Sim, só mais um bocado...."
"Até ao fim das nossas vidas?"
"Sim."

(1999).

24.4.12

Romantismos II

"Querida, disse-lhe eu, se prometeres que não vais rir, eu digo-te que rapariga é que eu gosto - mas não penses que és tu, senão desmancho-me eu a rir!"

Romantismos I

"Querida, disse-lhe eu, desde que te conheci que tenho comido o pão que o Diabo amassou.. Não aprendi grande coisa sobre o amor, mas fiquei a saber que, ao que parece, o Diabo é um péssimo padeiro!"

Independente, 2000.


Quando era miúdo sonhava em escrever crónicas para jornais. Sonhava escrever para O Independente, jornal fundado pelo cronista que mais gosto: Miguel Esteves Cardoso. Com sorte, muita sorte, publicaram uma carta minha em que eu tecia grandes e sinceros elogios à qualidade daquele jornal. E que ninguém negava. Nunca mais houve nem nunca mais haverá um jornal como O Independente. Pelo menos até hoje..






Não vou reproduzir a crónica em si porque não a considero muito boa: são meia dúzia de elogios e um muito obrigado no fim. Nessa altura, em Setembro de 2000, para um jovem quase licenciado e com pretensões literárias, ver publicado um textinho meu, por muito medíocre e mal escrito que fosse, num grande jornal de referência como O Independente (onde escreviam todos os meus cronistas preferidos: Vasco Pulido Valente, MEC, João Pereira Coutinho, Paulo Nogueira, Nuno Rogeiro, Maria Filomena Mónica, etc) era como acabar um curso qualquer e ser convidado a dar aulas em Harvard.
Mas aprendi que só se tem sonhos quando se é muito novo e, à medida que vamos envelhecendo, aprendemos que tudo o que vale a pena fazer só se consegue com muito, muito trabalho.
Aprendi que escrever dá trabalho e escrever bem dá muito trabalho, principalmente quando o objectivo principal de qualquer cronista é simplesmente divertir o leitor.
Ou devería ser.

Ken Follett: Grandes leituras!


2 Livros. Mais de duas mil páginas de puro prazer. Durante meses desapareci do radar e mergulhei neste mundo medieval criado por Ken Follett. Foram manhãs, tardes e noites inteiras. Ía para o trabalho a pensar no livro. Dormir era um intervalo desnecessário. Falei a toda a gente sobre estes livros. O facto de serem calhamaços brutais afastou toda a gente da sua leitura. Sim, os livros são grandes em tudo. Mas a verdade é esta: não há uma única página chata. Quando ainda «só» ía na página 600, ficava contente por ainda faltarem 400 para o fim. Lembro-me de a Oprah dizer no programa dela que ela pedia para que o livro não acabasse nunca (ao Youtube, já!).
Tal como um grande amor, eu  também não queria que acabasse...
 Só consegui convencer um amigo, que leu os Pilares (mal acabou, telefonou-me logo e disse «eh pá, altamente»), e o meu pai, que leu os dois, numa edição de 4 livros, da Editora Presença. Cada livro custou-me 9€, na edição inglesa, tão barato que ainda hoje olho para eles sossegadinhos na prateleira e penso se não ouve engano no preço. Em Portugal, a tradução transformou estes 2 livros em 4 calhamaços que custam 23€ cada um. Na Feira do Livro do Porto ainda os vi a 21€ e a Livraria Almedina do Arrábida Shopping, no Natal passado, fez um pack de dois pelo preço de um, e que se venderam que nem ginjas.
Sei que os Pilares da Terra foram adaptados para uma série que passa no Canal AXN, mas recuso-me a vê-la. Não quero saber se é boa, se é má, se a adaptação está bem feita ou não. Não quero saber se vai ganhar prémios.
Não é o livro.
Não é o «meu» livro, aquelas não são as minhas personagens e, francamente, não quero ver rostos hollywoodescos nas personagens dos Pilares, nem bandas sonoras de Michael Williams. 
Vocês estão agora a perguntar: mas os livros são sobre o quê?
Não vou dizer.

22.4.12

O melhor da vida!

Mongol General: Hao! Dai ye! We won again! This is good, but what is best in life?
Mongol: The open steppe, fleet horse, falcons at your wrist, and the wind in your hair.
Mongol General: Wrong! Conan! What is best in life?
Conan: To crush your enemies, see them driven before you, and to hear the lamentation of their women.
Mongol General: That is good! That is good.
"What is best in life?", cena do filme Conan The Barbarian, de John Milius (1982).



19.4.12

Superman II

Lois Lane apaixonou-se pelo Superman e não (jamais) pelo Clark Kent. O amor dela é tão grande que  impede-a de ver que eles são uma só pessoa. Superman é apenas Clark Kent sem óculos e vestido com um pijama azul. Mas ele tem «poder». Clark Kent é um colega de trabalho e, quanto muito, um amigo, mas não a faz voar, nem sonhar. O amor de Lois Lane pelo Superman é um amor pelo divino, pelo etéreo e pelo transcendente. Nunca, jamais, em tempo algum, Lois Lane se apaixonará por Clark Kent, porque depois de se amar o que é divino, o que vem de cima, o que é transcendental, é impossível amar-se o que é simplesmente humano.

Superman I

S de Superman.
S de Salvador.
S de Solitário.
Estar acima de todos e ser o mais forte do mundo é estar sozinho. 

18.4.12

Boas cozinheiras!


No meu entender, um homem só se divorcia por dois motivos: Ou ela não sabe fazer nada na cama, o que é mau, ou não sabe fazer nada na cozinha, o que é pior. Prefiro o primeiro motivo - é muito mais difícil arranjar uma boa cozinheira hoje em dia!

17.4.12

Um agradecimento e um aviso à população

Já que não posso deixar em mais lado nenhum, queria deixar aqui, não só um sincero agradecimento aos milhares de fãs que trocaram as àguas infectas do Facebook pela sábia e inteligente escolha de ler este blogue, mas também agradecer as dezenas de cartas e emails que raparigas holandesas, loiras, altas e de fartos seios me enviaram, e cuja única frase em português dizia somente «oral completo»,  com propostas indecentes para casar, juntar, viajar e outros verbos começados por «F». Bem hajam a todas, agora mandem-me fotos em que apareçam vestidas, senão não vos vou conseguir reconhecer na rua!
De forma que agora perco o meu tempo  a contemplar o poster que a equipa de volleyball feminina dum país nórdico me mandou: deixem-me dar-vos uma pista - elas não estão a jogar volleyball!
 A foto que subtilmente coloquei ao lado deste texto representa no fundo a a minha apreciação do público que me lê, não só estéticamente mas também de carácter: sim, sois todos uns burros por perderem o vosso tempo a ler as minhas fracas opiniões sobre coisas que não interessam mesmo a ninguém e eu também sou um burro por escrever estas piadolas sem contrapartida monetária, sim, de graça, sem receber cheta, caracanhol, pilim, arame, a troco apenas de um desconto de 10% na compra da revista Penthouse (ainda por cima, só recebo a versão censurada, aquela em que as mamocas e as restantes partes pudibundas das nudistas estão cobertas com gigantes rectângulos pretos, obrigando-me a ter que puxar pela imaginação e recorrer a umas fantasias antigas sobre moçoilas do campo de forquilha na mão, duas vacas, um banco e um balde)...
Desculpem o tom jocoso desta missiva, mas tenho de prevenir os meus leitores mais incáutos em relação ao conteúdo pecaminoso destas crónicas e uma parte de mim mais sentimentalista tem compaixão do vosso baixíssimo QI , como tal, aqui vão alguns lembretes bem avisados sobre o modo de bem ler este blogue:

A) Abrir o blogue e franzir imediatamente a sobrancelha esquerda: se não há conteúdo pornográfico (o que vai ser raro), então chamar a restante família, arrastar a avó tresloucada do sofá e atirar a renda que ela estava a fazer para a lareira para avivar as chamas e continuar com o «scroll down»; não vejo nada contra em fazerem um pequeno piquenique com tremoços, 'bejecas' e sandes de torresmos; ao avô basta colocar umas rodinhas automáticas com motor na andadeira;
B) Preparar os sacos de enjoo que subltimente surripiaram do avião quando foram de férias para sítios pirosos como Palma de Maiorca ou Tenerife, com os vossos amigos de pendor cultural mais grunho ("isto vai ser uma moca, man.."), só porque a obesa da vossa esposa vos apanhou na cozinha a ingerir o primeiro bagacito da manhã e resolveu sugerir, enquanto limpava o esturgido da colher de pau nos beiços (não, os de cima!..): «Ai, 'Mor, este ano vamos para uma ilha, estou mesmo a precisar duns bafos de calor mediterrânico pela peida acima»! (Eu sempre disse que era um romântico, que o digam as minhas 14 «ex»); para além dos sacos de enjoo, recomendo água com gás, e para os mais valentes, uma «mini».
C) Com toda a família bem instalada, não esquecendo de dar umas mocadas com a vassoura ao puto mais novo para não limpar o ranho ao cabelo da irmã, agora é que começa a diversão:  Como de costume, o mais literato de vocês vai ter que ler, em voz bem alta, algumas passagens mais bem pensadas, vulgo «aforismos», ao avô que, infelizmente, apanhou um balázio nos cornos quando estava na Guiné e desde aí a única frase que consegue pronunciar é «baixem-se todos, que os 'elicópatros' já estão a cagar 'missis'»;
D) Depois basta partilhar com o resto da malta, no fim de cada texto: «É pá, sim 'sinhori'»,  ou então «que porcaria é esta? Vou mas é para o 'Feicebúke' ver as fotos da minha vizinha, deitada no chão da casa de banho de um bar, sem soutien e um 'pénes' desenhado na testa a carvão»;
E) Faça-se um silêncio sepulcral, genuinamente partilhado por todos os convivas. Recomenda-se que seja a Mulher da casa a iniciar a retirada, bastando um «bem, vou mas é tratar do almoço»;
E) Altura de fechar o blogue e apagá-lo dos favoritos. Num acesso de raiva ou desgosto é permito lançar o PC janela fora, desde que aterre no BMW novinho do vizinho;
F) Ir para o café ler a página do Relax do Jornal de Notícias;
G) Colocar outra vez a avó na sala a ver a TVI, ou o rancho das coelhinhas na Sic Radical (não me responsabilizo);
H) E finalmente, não ligar muito ao que vem escrito neste blogue.

Vá lá, ide para outro lado.
Get a life! 
Não sejam burros!..

(O meu sincero obrigado a todos)

12.4.12

Desilusões III

O pilar de qualquer relação amorosa de sucesso assenta sempre no facto de a mulher nunca dizer aquilo que sente e o marido nunca dizer aquilo que pensa. Nunca saber a verdade sobre os sentimentos está na base de um casamento para toda a vida.

Desilusões II

Sim, disse-lhe eu, és bonita e tinham-me dito que as tuas fotos no FB eram de ficar de boca aberta. Eu, de facto, fiquei de boca aberta mas era por estar a bocejar de tédio.

Desilusões I

Saber que estás a ser feliz longe de mim é a minha pequena vingança!

10.4.12

Estar apaixonado!

É fácil saber se estamos apaixonados ou não. Se temos que perguntar, é porque não estamos. Se duvidamos, também não. Se descobrimos que estamos, que é a primeira vez que nos apaixonamos em toda a vida, então sentimos medo que alguém descubra. Sobretudo «ela». Pode-se ter saudade de quem se ama, mas para quem se apaixona não é a saudade que se sente da pessoa amada ou a vontade de estar com ela. Nem interessa muito saber se ela é ou não o amor da nossa vida. O que sente é medo: "Ai se ela descobre!"
Depois entra o cérebro para ajudar:
- "Pá, ela não pode saber nunca. Tu não a mereces, ela nunca reparou em ti sequer, ainda por cima és gordo e caixa de óculos e quando te ris fazes lembrar a matança do porco em Chaves".
Mas o coração não se deixa ficar: 
- "Mas ela é tão linda, é alta, loirinha, um bocadinho cheínha, quando se ri o rosto dela faz duas covinhas, uma de cada lado da boca e quando ela está triste, puxa sempre o cabelo para trás com a mão e com a outra coloca um ganchinho para o prender... e eu sei sempre quando ela está triste. Sempre". 

O amor é mais profundo que isto. Mas uma coisa muito profunda deixa de se ver e deixa de querer ser vista. O máximo que podemos aspirar é estarmos apaixonados.
Um grande amor pode trazer alegria, mas uma pessoa apaixonada por alguém sabe sempre quando a outra está triste.


Tricky - Past Mistake (Lyrics)

Tricky - Past Mistake. Ouvir aqui.

I realize
There's no compromise
Through lying eyes
My love for

Just wasn't there
Even though I care
Did I hurt you bad
Did I make you sad

I know I paid
That's why I'm alone today
Just me, myself
No mental health

My mistake
Overtakes
Your love's overgrown
My love

My love, my love
My love for you
My love, my love
My love for you

Now I wonder why
Until we die
And then
Upon your praise

Hope Jesus come
To kill the one
I feel again
I love you then

Oceans of time
I've crossed to find
I found you
I will find you

But it's not my time
My time to take
For Mina's sake
My lover's soul

My love, my love
My love for you
My love, my love
My love for you

'Til it burns my soul
Burns my soul
Burns a hole

My love, my love
My love for you
My love, my love
My love for you

Quando nos Apaixonamos (Crónica do MEC)

Quando nos apaixonamos, ou estamos prestes a apaixonar-nos, qualquer coisinha que essa pessoa faz – se nos toca na mão ou diz que foi bom ver-nos, sem nós sabermos sequer se é verdade ou se quer dizer alguma coisa — ela levanta-nos pela alma e põe-nos a cabeça a voar, tonta de tão feliz e feliz de tão tonta. E, logo no momento seguinte, larga-nos a mão, vira a cara e espezinha-nos o coração, matando a vida e o mundo e o mundo e a vida que tínhamos imaginado para os dois. Lembro-me, quando comecei a apaixonar-me pela Maria João, da exaltação e do desespero que traziam essas importantíssimas banalidades. Lembro-me porque ainda agora as senti. Não faz sentido dizer que estou apaixonado por ela há quinze anos. Ou ontem. Ainda estou a apaixonar-me.

Gosto mais de estar com ela a fazer as coisas mais chatas do mundo do que estar sozinho ou com qualquer outra pessoa a fazer as coisas mais divertidas. As coisas continuam a ser chatas mas é estar com ela que é divertido. Não importa onde se está ou o que se está a fazer. O que importa é estar com ela. O amor nunca fica resolvido nem se alcança. Cada pormenor é dramático. De cada um tudo depende. Não é qualquer gesto que pode ser romântico ou trágico. Todos os gestos são. Sempre. É esse o medo. É essa a novidade. É assim o amor. Nunca podemos contar com ele. É por isso que nos apaixonamos por quem nos apaixonamos. Porque é uma grande, bendita distracção vivermos assim. Com tanta sorte.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público (14 Fev 2012)'

Livraria Lello & Irmão

Adoro a Livraria Lello, no Porto.
Considerada uma das 10 livrarias mais bonitas do mundo!

4.4.12

Mente e Coração - Sim ou Não?

"Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna." Mateus 5:37.

Mas será que ainda gosta de mim? Por onde anda? O que será que anda a fazer? O que será que quis dizer com aquilo? Porque é que ela não responde? Porque é que ela não me diz nada?Porque é que ela fala tanto?

É engraçado como a nossa mente demora tanto tempo a tentar resolver um problema amoroso quando o nosso coração consegue sempre resolver em segundos.
Porquê?

Porque o cérebro tem uma linguagem humana e o coração tem uma linguagem divina. O primeiro percebemos sempre, seja verdade, seja mentira; o segundo nem sempre percebemos e, quando tentamos perceber, não aceitamos a resposta que nos dá. Um coração nunca faz perguntas e quando as faz é só para tentar obter uma resposta de Sim ou Não.

Um coração só sabe dizer Sim e Não.

Mais nada.

E é por isso que toda a gente tem medo de seguir o que o coração diz. Ninguém consegue viver só com um sim e um não como resposta. Toda a gente procura uma verdade, um porquê, uma razão, um sentido e a mente consegue iludir-nos a pensar que existe mais qualquer coisa no Amor, mas a verdade é que não existe mais nada.

Só existe aceitação e silêncio. No amor só existe o Sim e o Não. É essa a verdadeira libertação e alegria.

- "Amas-me? - Sim!";

- "Amas-me? - Não!.


Não chega?

3.4.12

The Navigator (cinefilias)!



The Navigator, A Medievel Odyssey, de Vincent Ward (1988). O melhor filme do Fantasporto que vi até hoje. Excelente banda sonora e grande fotografia.

Primeira parte aqui.


1.4.12

Lembras-te? (desenho de Susana Nunes)

O Simão e a Ritinha estão zangados há 5 meses. Têm ambos 8 anos. Ela é mais velha um mês. Parecendo que não, é relevante! Em caso de provocação, o que acontece a toda a hora, respondem um ao outro sempre a mesma coisa: «Ó, vai-te embora». Na aula de Desenho, calhou estarem juntos na mesma carteira.
- «Empresta-me um marcador», pede o Simão, mas sem levantar os olhos do caderno. Não é agora que ía dar parte fraca e olhar nos olhos dela. Só é corajoso quando vale a pena, tipo pegar numa lagartixa e atirar às meninas na hora do lanche.
- «Ó, eu não empresto marcadores a hipopótamos feios e desdentados», diz ela, muito alto e rápido, escondendo o marcador debaixo do livro. "Pede à tua «amiguinha», ela deve ter muitos, ou ela só tem dinheiro para gelados e rebuçados?" No fundo da sala, uma menina chamada Carlota corava que nem um pimento assado. A Ritinha faz-se forte, sempre foi forte, mesmo quando ouvía as amiguinhas no recreio a chamarem-lhe «badocha».

- «Pronto, está bem, eu vou pedir à...»
- «Ó, não é preciso, eu tenho muitos, escolhe um, ou dois, olha, leva-os todos... fogo, que chato», remata ela, e atira 10 marcadores para o lado da mesa dele, caíndo quase todos ao chão. A turma toda ri. «Calados, meninos», berra a professora.

O Simão pega no vermelho e no azul e rabisca durante a aula inteira. Não trocam mais palavras. Ela ainda tenta olhar para o desenho dele, mas ele, de repente, respira bem fundo, como se fosse um pequenino touro quase a entrar para uma arena. Desiste. «Deve ser uma bela porcaria, também...»

Mas de repente sente-se magoada, posta de lado. Ele nem sequer olhou uma vez para o desenho dela, um pequeno colibri verde e vermelho e uma flôr amarela. Nem ela própria sabe que flôr é, está tão mal desenhada que mais parece uma mosca amarela depois de ser atropelada por um camião. O Colibri mais parece um piriquito com epilepsia.De repente toca para sair. Na porta da saída para a rua estava o Simão com o desenho na mão direita. A Ritinha chega-se ao pé dele. Já ía virar costas e fugir mas... mas... "mas porque é que ele olha para mim desta maneira?", pergunta-se ela e decide olhar para o chão, como se estivesse à procura de qualquer coisa.

Sem dizer uma palavra, o Simão aproxima-se dela, entrega-lhe o desenho e foge a correr para casa. «Parece parvo», pensa a Ritinha, e olha para o desenho.
No final da página, por debaixo do desenho, tem uma frase escrita, com a letra meio escorrida, como se tivessem caído duas gotas de água em cima das palavras.


No dia seguinte deram o primeiro beijo.

Onde estás?

12.3.12

Rainha do Mar!

Tenho o mar dentro de mim.

(Para a Mariana)