31.7.06

E....Trainspotting, o filme visceral de Danny Boyle!


Trainspotting, 1996. E o mundo do cinema nunca mais sería o mesmo. A vida é uma escolha. Ou não? Ouvir aqui a música de abertura.

Cinefilia: 3 filmes a não perder!

Old Boy, o filme-choque de 2003. Cinema violento no seu melhor.

Um Violino no Telhado, absolutamente brilhante. Um musical de Norman Jewison de 1971. Para ver e rever a cena onde Topol canta a famosa música "If I Were a Rich Man". Filme obrigatório.

Primavera Verão Outono e Inverno...e Primavera de Kim Ki-Duk. Inocência, sabedoria e Budismo. Para ver e reflectir.

Regras de Ouro (4??????)

Arbeit Macht Frei, que em Português quer dizer "O trabalho traz liberdade" ou "O trabalho libertar-te á", era o "slogan" afixado pelos Nazis à entrada dos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau e foi objecto de múltiplas interpretações. Há duas principais: a literal, que diz que quem trabalhar será libertado, o que pode traduzir-se como falsa propaganda Nazi, pois os campos de concentração eram campos de extermínio disfarçados de «campos de trabalho» e o objectivo não era libertar ninguém, excepto da "existência física"; e a interpretação metafórica, ou mística, ou filosófica, que diz que através do trabalho intenso e sacrificial per si todo o indivíduo pode atingir uma certa "paz" e "liberdade espiritual interior". Em suma: que o trabalho é o maior benefício da humanidade, prendendo-a a si e ao mesmo tempo libertando-a de tudo o resto que podería afligi-la.
E depois há a minha interpretação: O trabalho não libertava os judeus nos campos nazis, nem "dos" campos nazis, nem no sentido literal nem no sentido metafórico: apenas libertava-os de irem parar às cameras de gás «tão depressa» como os outros. Trabalhar era o único meio de adiar a morte no regime nazi, que dividia toda a gente em trabalhadores "essenciais" e "não essenciais", saudáveis e doentes, velhos e novos - em suma: os que podiam trabalhar e os que não podiam. Isto no início, claro, porque a partir de 1942, com a declaração oficial do holocausto, aparentemente, decidiu-se que o «trabalho» já não libertava ninguém, chegando à conclusão que somente a morte «libertaria» os judeus (leia-se, do regime nazi).
Mas para todos os efeitos, aceitemos a verdade universal de que o trabalho liberta mesmo e admitamos que sim, que o «slogan» tinha a sua razão de ser e que o trabalho libertou-os mesmo. Mesmo que por um breve período de tempo, sim, libertou-os. Mas reduziu-os a pouco mais do que nada, meros farrapos humanos, sem dignidade nem esperança, mesmo antes de chegar, por decreto oficial, a verdadeira liberdade que, essa, sim, estava mais lá dentro do campo, ao fundo, nas câmeras de gás...

Regras de Ouro (3?)

Tenho andado a ler alguns livros de ética e regras de cortesia da antiguidade clássica, nomeadamente de inspiração judaico-cristã, sempre na tentativa de encontrar semelhanças e contrastes civilizacionais com a actualidade. A conclusão é, no mínimo, espantosa e de deixar-nos de boca aberta. Veja-se um exemplo sobre regras de educação judaicas, encontradas no livro Encontros de Roberto Badenas, em rodapé, na pág.103: «Não fales demasiado tempo com uma mulher...Nem com a tua nem, muito menos, com a do próximo». Vejo aí um sobrolho a levantar-se. Mas vejamos o que dizía um contemporâneo de Jesus, Fílon: «As mulheres devem ficar sempre em casa e viver retiradas. As jovens devem conservar-se nos aposentos interiores sem ultrapassar os limites da porta de comunicação (com as divisões a que os homens têm acesso). E as mulheres casadas não ultrapassarão a porta do pátio...para se subtrair por pudor aos olhares dos homens, mesmo dos seus parentes mais próximos.»

Muito difíceis eram os engates na altura.

Regras de Ouro (2)

Perguntei a um amigo se estava a pensar casar. Ele simplesmente respondeu: "Para quê comprar a vaca, quando se tem o leite de graça?"

Regras de Ouro (1)

Quem não se sente amado é porque também não está a amar ninguém, um bocadito que seja. Como diz a minha mãe: "Mãos que não dáis, porque esperais?"

30.7.06

Shakespeare & Company: O último Hotel "Beat"


Shakespeare & Company, uma livraria parisiense de literatura inglesa, com quatro andares, camas improvisadas por toda a parte, uma cozinha cheia de baratas, tem sido ao longo de mais de 50 anos local de encontro de escritores Beat, aberta ao público por George Whitman em 1951, o eremita, o bicho do mato, o genial anarquista que durante 50 anos acolheu viajantes, visitantes, mais conhecidos por "tumbleweeds", vagabundos, diletantes, escritores e candidatos a escritores, chegando alguns a ficar durante anos. A livraria serve de palco para pôr em prática a sua utopia socialista de cultura literária boémia.
Mais de 50 mil pessoas já passaram por ali, dormiram ali e ali muitos poetas e intelectuais fizeram a sua «escola». Ali foram dar escritores da conhecida Lost Generation tais como Hemingway, Joyce, Pound, Stein e da Beat Generation como Ginsberg, Corso, Burroughs. Até Henry Miller, que classificou a livraria como "a wonderland of books".


Shakespeare & Company, mesmo junto ao Seine, sob o olhar da Notre Damme.

Ernest Hemingway na livraria, em 1921. A livraria aparece muitas vezes mencionada no seu livro A Moveable Feast.

Sylvia Beach, proprietária da Shakespeare & Company entre 1919 e 1941, até ser reaberta por Whitman em 1951, com James Joyce, antes da publicação de Ulisses pela mesma em 1922, livro banido até então na Inglaterra e na América. Toda a documentação de Joyce, incluindo manuscritos, cartas, ensaios está contida no que veio a ficar conhecido como "The Sylvia Beach Papers".

29.7.06

Etiquetas e manias!

Teste os seus conhecimentos em etiquetas e boas maneiras à mesa. É só seguir este jogo.

Boas maneiras à antiga!

"Um homem nunca deve andar com a cabeça levantada para não aparecer arrogante, nem demasiado curvado como se fosse aleijado, nem menear-se demais como se fosse efeminado, nem correr em público, para não dar a impressão de ter falta de seriedade. Deve olhar mais para baixo como se estivesse a orar, e andar com passo decidido, como se fosse tratar de um assunto importante." (Maimonides, Yad. Deot 5:8)
Antiga regra judaica

28.7.06

Maior segurança rodoviária!


É sabido que o seguro morreu de velho. No entanto acho que nem assim....

27.7.06

Cinefilia: Conan



Conan The Barbarian (1982) e Conan The Destroyer (1984). 2 filmes de culto. Conan, the Cimmerian: doses maciças de músculos, solitário, destemido, sentido e estilo de vida completamente iconoclastas. Um Super Herói a revisitar e a reabilitar pela moderna cinefilia.

Red Sonja é para esquecer.

Saudades em dedicatórias!

Para o Pedro Azevedo, o melhor filme de sempre.
Para o Tóni Cardinal, os bons velhos tempos da nossa onda rap.
Para o Manuel Santos, idem aspas.
Para o Tozé "The Punk-Rocker" Mota, a melhor série infantil de sempre.

Para a Márcia, a nossa música.

E para a minha família do Brasil, a música da nossa passagem de ano no Rio, nos '90s, entre Chopps e Picanha, e muita, muita alegria.

26.7.06

O Inferno! (Parte 3)

O Inferno! (Parte 2)

Como não sei o que é estar casado, para mim o Inferno são as praias no Verão. Aquilo, sim, é um cenário perfeitamente dantesco: centenas de pessoas juntinhas, quase coladinhas, 40 graus à sombra, famílias inteiras a torrar ao sol, expondo o nalguedo gorduroso ao relento da maresia, de tanto besuntado que está com o bronzeador comprado na loja dos 300 e todos a escarafunchar a marmita dos rissóis, tipo perdigueiros enjaulados, partilhando entre eles aquelas Sprites de 2 litros, alternando entre eles - desde o neto ranhoso da fralda acastanhada ao avô tresloucado que só sabe dizer para as "gajas" do lado "ai que belas padarias"- o côro de arrotos a imitar o alfabeto latino.
Depois há sempre aquele puto perdido, já com ranho seco no queixo, misturado com tulicreme, a chamar pelos pais; há sempre aquele casal de namorados pegajosos que se beijam o dia todo ao estilo ventosa e que só desgrudam as beiçolas quando chegam a casa, com o condutor do autocarro a atirar-lhes, pela 6ª vez seguida, um balde de água fria, como se fazia antigamente aos cães no cio, indo cada um para seu lado a ganir baixinho.
Depois há sempre aquele grupo de jovens que têm a puta da mania que são uns "ases" no Beach Volley e que passam a vida a pedir "imensa desculpa" sempre que a bola parte a cana do nariz à pobre velhinha viúva que está a fazer malha mesmo pertinho daquele esgoto a céu aberto que a Câmera Municipal já anda a "tentar resolver" há décadas.
Depois há sempre aquele pai austero, calvo e de bigode oitocentista que está a tentar ensinar o puto mais novo a nadar, mas sempre com um olho no "pacote" da boazona intelectual que está deitada de barriga para baixo a ler Margarida Rebelo Pinto. E, por fim, há sempre, mas sempre hã?, não estou a brincar, aquele casal de velhotes que estão sistematicamente a queixar-se do calor e que estavam melhor em casa a regar o campo das cebolas.
A única parte boa deste "Inferno" é que há sempre, mas sempre e graças a Deus, aquele par de Suecas a fazer topless, expondo as mamitas tipo ovos estrelados ao sol abrasador, enquanto passam óleo Johnson uma na outra e que nos leva a pensar, que, enfim, nem tudo está perdido.
Sendo assim, como transformar uma praia destas num Paraíso?
Aceitam-se sugestões.
A minha é sempre a mesma: infestar as águas com tubarões suficientes para levar toda a gente a sair dali para fora a bater com os calcanhares no pescoço e ficar só eu e as Suecas toda a santa tardinha a jogar aquele «jogo» que os homens e as mulheres jogam uns com os outros quando estão nús - como é que se chama? Aquele jogo que, se correr mal para ambas as equipas, só se sabe o resultado 9 meses depois?

O inferno! (parte 1)

Perguntaram-me se eu sabia o que é o inferno. A resposta, caros amiguinhos, é mais do que óbvia. Só sei o que é o Paraíso. Ora, sabendo eu que o Paraíso é, nada mais nada menos que, ficar fechado durante 2 meses, ao puro estilo Big Brother, na mansão da Playboy, com todas as Playmates do ano, sempre a «bombar» de manhã à noite, ao estilo "vira-porca-vai-porca-vira-porca-vai-porca", alternando 2 loiras por cada 5 morenas só para "desenjoar", apenas parando durante 15 segundos para respirar bem fundo, comer uma bucha de focinho de porco, ir à janela do quarto e ver chegar um camião género da TIR com 4 atrelados, carregadinhos de Viagra, toalhas e toda a sorte de bebidas energéticas, incluíndo 6 barris de Redbull, fui obrigado a concluir que o Inferno é tudo o resto que não está incluído no que acabei de dizer.
Chega?

25.7.06

29 anos.... e onde estão as gémeas suecas a sair do bolo?

Sim, faço 29 aninhos hoje. Já vai longe o revolucionário dia 25 de julho de 1977, onde um pequeno petiz de rosto coradito nascia no Hospital de Gaia perante o olhar embasbacado das enfermeiras de serviço que comentavam entre si: "Eh lá, este tem dois cordões umbilicais!"
Velhos tempos de 1977, onde as pessoas apareciam a preto e branco na televisão, as fraldas anatómicas resumiam-se a um pano de cozinha preso por um alfinete, que pela quantidade de ferrugem deve ter atravessado no mínimo 4 gerações de bébés na minha família, não havia i-Pods nem i-tunes, mas havia carrinhos de rolamentos e a abelha maia. Não havia Playstation mas havia legos e o "quarto-escuro" com as boazonas da rua. Enfim, outros tempos...

29 anos depois sou o mesmo bébé: vejo mulheres a passar na rua e babo-me e faço «gugu-dádá» com a mãozinha a apontar para os enormes seios que passam dum lado para o outro, ainda gosto de Cerelác e Nestum de Mel, gosto de berrar e chorar a meio da noite, mas infelizmente já não há ninguém que venha em meu auxílio e meter-me um enorme teta na boca para me calar e a mim mãe também já não tá para isso... Enfim, não se pode ter tudo. Tal como os bébés ainda estou a aprender a falar, a dizer coisas como "não te preocupes que não vai doer" ou "sim meu amor, vamos ficar juntos e casar" e ainda "claro que és a única linda, eu já esqueci a outra"... e por aí fora. Ainda gosto de brincar aos carrinhos e "pópós" especialmente com raparigas lindas no banco de trás...enfim, sonhos....
Agora, a um anito dos 30, vai ser neste fase dos "29" que vou tentar ganhar juízo, responsabilidade, tenacidade, em suma: ser um homenzinho. Toda a gente que eu conheço com a minha idade já tem 2 ou 3 casamentos em cima do lombo, 3 ou 4 putos ranhosos (um deles assumido), barba e barriga proeminentes e já estão completamente carecas e corcundas. Estão mais sérios, mais calados, mais cansados e mais velhos e não necessariamente por esta ordem. Têm "responsabilidades" ou lá o que é. Têm «despesas» ou isso. Só porque "se casaram" e não sei quê... Eu também se andasse a pagar 400 euros por um apartamento rasca durante 40 anos da minha vida só para viver com uma parola casadoira da aldeia, uma lontra de 80 kls, que não sabe cozinhar nem rapar o buço como deve ser e estar sempre a levar para a cabeça porque não posso deixar as latas de cerveja em cima da carpete da sala nem varrer as cascas dos tremoços para debaixo do sofá, eu próprio também me deprimia e envelhecia.

A mim é que não me apanham.
Nelson, 29 anos, solteiro e «bom rapaz», o último dos boémios...


Beijos para a Susana Santos e Cláudia Pereira que também fazem anos hoje.
Felicidades para ambas.

24.7.06

É um pássaro? É um avião?..Não, é o meu gatinho novo!!!

Há um gatinho novo a rondar aqui por casa. A morar cá, pronto. Tem 3 meses de idade, tem o pêlo todo cinzentinho, olhinhos verdes, 2 kilos de gente. Devo dizer que ele sai a mim em quase todos os aspectos, embora eu não consiga lamber os meus próprios tomates. O que gostamos é de estragar. Eu quando era puto estragava tudo o que me davam, prendas de aniversário, foguetões que não saíam do chão ( tinha de o desmontar todo para saber porque é que não voava e depois quando voltava a montá-lo sobravam sempre 2 kilos de peças), combóios novinhos em folha, com túneis e tudo: partia tudo em dois dias, desmontava tudo "para ver como funcionava", deixando naturalmente os meus pais lavados em lágrimas e com vontade de correr para o telefone para ligar ao psicólogo mais corajoso. Em todos os natais e aniversários, sempre que dizía que ía brincar, lá ouvia o desabafo familiar: "Pronto, já vai foder aquela merda toda, deve pensar que estas merdas não custam dinheiro!.."
Todos os gatos são assim também. Não entra na cabeça dos bichos que um vaso de cristal da Vista Alegre não é para deitar da prateleira abaixo, que as pernas das pessoas não são para esgadanhar, que as pulgas não são amiguinhas, que os croquetes e bolinhos de bacalhau não são bolas de futebol para chutar com as patitas para debaixo do frigorífico, e sobretudo que não se devem mandar do quinto andar para a rua só porque há 4 ou 5 gatas a miar orgiásticamente junto ao caixote do lixo.
O meu pobre gatinho, 5 tostões de gente - que gosta de subir por mim acima, cravando as garras medonhas nos meus ombros quando estou no PC, que adormece em cima do teclado, apagando as páginas porno do ecrã ou escrevendo no Word algo parecido com "aslkrjçakgnçaorgalgjaklvnaçk" - é um tigre pequenito e peludito de trazer por casa que acorda toda a gente a meio da noite com o mais temível dos uivos, tipo lobo na época do cio, passando toda a noite a subir para cima de tudo, móveis, mesas, frigoríficos, cortinas e sanefas, cujo hobby preferido é arranhar sofás, pernas e braços, subir às cortinas usando as garras como degraus (e deixar a minha mãe à beira dum ataque de nervos) e subir para cima da lareira e deitar abaixo a jarra de flores novinha em folha, comprada na mais prestigiada loja dos 300 aqui da redondeza, assim sem mais nem menos, só para ver os cacos espalhados na tijoleira e empurrá-los com as patinhas peludas para debaixo do sofá e brincar sossegadamente na areia do jarro espalhada pelo chão. E irrita-me sobretudo porque não consegue estar quieto o tempo suficiente para lhe tirar uma snapshot com a webcam, mas ele lá adormeceu e consegui.
A maior parte das vezes fica simplesmente em frente ao monitor, fascinado com o cursor sempre a andar dum lado para o outro e tentando apanhá-lo com a patita.
Tal como o o dono, o que ele gosta é de dormir durante o dia e ir atrás das gatas à noite. Trabalho não é connosco. Gostamos é do "lazer cultivado", o cultivated leisure a que se referia Oscar Wilde nos seus ensaios: a arte de não fazer nenhum, que é uma arte e é extremamente difícil: qualquer um consegue trabalhar e picar o ponto, agora saber aproveitar os tempo livres requer arte e sabedoria, um requisito civilizacional que não está ao alcance do proletariado.
Mas que o bicho é esquisito para comer lá isso é, nada de comida enlatada, seca ou sacos de 10 kilos de biscoitos secos; só gosta da comidinha em forma de pasta húmida, que tenha aquele molhinho a atum e galinha ou a coelho. Adora salmão, umas belas lascas de bacalhau fresquinho e de uns saborosos nacos vermelhuscos de bifes tenrinhos.
Isto agora que é ainda é pequenucho, quero ver quando fôr maior. Ainda vou ter aqui umas redes de pesca na cozinha, carregadinhas de carapaus e sardinhas.
Mas não exageremos. Só o tempo o dirá.

Biblio-Cinefilia: O Nome da Rosa!

Este é provavelmente o melhor romance histórico que li na vida. Começa-se a ler. A partir da pág 15 esqueço tudo o resto à minha volta e mergulho completamente, horas a fio, na história, na intriga policial daquele enredo misterioso passado na época medieval. Claro que já tinha visto o filme quando era puto e até tenho o DVD, que já visionei dezenas de vezes. Claro que o filme está excelente, Jean-Jacques Annaud é um mestre na realização de filmes históricos, veja-se a Guerra do Fogo, por ex. Considero o livro o mais bem escrito e mais bem investigado que tenha lido até hoje, sobre a época medieval, todo a quele contexto de repressão religiosa, obscurantismo, superstição, medo da inquisição, a procura e transmisssão do conhecimento, que era só possível aos letrados - os livros eram meros incunábulos, copiados à mão por monges dedicados, centenas de anos antes da imprensa. O Nome da Rosa é um romance policial sobre livros medievais que faz todas as delícias de pessoas como eu, com necessidades extremas de erudição e divertimento. Toda a época medieval está excelentemente retratada por Umberto Eco, riquíssima em pormenores e detalhes o que, para pessoas normais torna o livro secante, mas para mim extremamente empolgante. O livro está tão bem escrito e é tão empolgante (num duplo sentido: o de um policial misterioso que nos remete directamente para os filmes do género e um romance histórico com toda a erudição e entretenimento para os "nerds"mais dilentantes) que até parece que estamos lá a presenciar e a viver tudo com eles.
Um mosteiro, uma vaga de homicídios, um detective franciscano, William of Baskerville, ajudado pelo jovem aprendiz, Adso de Melk, vai tentar descortinar a origem das mortes que varrem aquele mosteiro e que o levará aos segredos bem guardados durante séculos pela igreja medieval, no que refere a "livros proibidos". E não digo mais. Quem viu o filme ja sabe do que falo. A quem vai ler o livro, boa viagem pelo passado.

23.7.06

Cinefilia: Encontro e despedida em Lost in Translation


Em Lost in Translation, de Sofia Coppola, Bill Murray e Scarlett Johansson, duas almas gémeas, encontram-se em circunstâncias estranhas, num país longe de casa. Têm idades diferentes, backgrounds diferentes, mas a mesma alma, o mesmo sentido de vazio existencial, o mesmo tédio urbano-depressivo. Encontraram-se, por acaso, num Hotel em Tokyo. No Bar do Hotel, um local cliché para encontros e desencontros amorosos, trocam as primeiras frases: "Quem me dera poder dormir!", diz ele, ao que ela responde, "sim", "eu também".
Em Lost in Translation, o que impressiona mais é a solidão e o silêncio do Hotel, contrastado com a sobrepopulação e barulho citadinos. O "nós" cá dentro e o "eles" lá fora. Dois mundos que precisam de tradução para comunicarem. Tokyo é uma cidade completamente diferente de todas, barulhenta, multilíngue, incompreensível em todos os sentidos, mas com uma lingugem comum e universal a toda a gente - o sentido de vazio e de amor, de abandono e de rejeição, de tédio e de alegria. Há sempre algo que se perde na tradução. Tudo é estranho, não se percebe nada, mas as duas personagens entenderam-se nisto tudo e encontraram-se.

A cena da despedida entre Bill Murray e Scarlett Johansson é a mais dolorosa que já vi em filme: eles não sabem se hão-de-se beijar ou abraçar e ficam parados a olhar um para o outro, no bar do hotel, a olhar para o lado, a evitar ou tentar adiar a última despedida, o último olhar, a última palavra. Ele a dizer que não quer ir, ela a dizer para ficar. Ele põe a mão na cara, sem tirar os olhos dela, com aquele olhar que parece dizer "e agora, o que vou eu fazer?". Despedem-se com um simples aperto de mão, sem tirar os olhos um do outro e viram costas, tal é a natureza das verdadeiras almas gémeas, que não necessitam de meros gestos de afecto, bastando a linguagem simples e universal da troca de olhar. Aquele último olhar, que nenhuma fotografia poderá reproduzir (ou traduzir), que ficará gravado na retina para sempre, antes da despedida final.
Encontram-se no outro dia de manhã, na entrada do Hotel. Nova tentativa de despedida, mas ainda mais "silly" e tímida. Ela retira-se com um simples adeus e ele a posar para as fotos dos jornalistas, sem tirar os olhos da Scarlett, a dirigir-se para o elevador. E de repente a cara de Bill Murray fica triste, como nunca se viu em filme nenhum. O sorriso desfez-se e os olhos a começar a aguar-se perante os intrépidos flashs dos fotógrafos.
Ele sai e entra no carro em direcção ao aeroporto, sempre a pensar nela e no que devia ter feito ou dito. Se devería ir ou ficar. Uns quilómetros mais tarde, passa por uma rua e sai ao encontro dela no meio da praça. Olham-se. Ele decidido, ela meio estranha. E quando pensamos que se vão beijar, ao estilo hollywood, eles abraçam-se, desatando ela a chorar nos ombros dele, um choro pequenino e sufocado, olhos vermelhuscos, completamente protegida e compreendida na sua dor. Ele baixa-se um bocado e segreda-lhe algumas palavras no ouvido, palavras que não percebemos, que só eles sabem, só eles percebem, só eles sabem o seu significado.

Palavras que nunca se perderão na tradução!

Depois das Virgens Suicidas, Sofia Coppola, surprendeu-me com esta bela obra-prima, Lost in Translation, um dos melhores filmes de 2003, uma obra inteligente e madura, que põe o dedo na ferida sobre o nosso mundo interior que é sufocado pelo mundo exterior das aparências em que a humanidade insiste tanto em cultivar.
Mas que não dá fruto.

Retratos do Trabalho...isto sou eu a imitar, com fraca piada, o excelente Blog Abrupto!

Cena de trabalho dum jovem Blogger no auge da sua carreira.

20.7.06

Café del Mar 7: Chill out para o "lusco-fusco"!

Café del Mar, vol. 7 é uma compilação de música lounge, com sonoridades «chill-out» e New Age, criada por um conhecido bar em Ibiza, O Café del Mar, famoso por ter um DJ permanente que começa a pôr músicas desde o entardecer até ao pôr-do-sol (o famoso DJ José Padilla), criando um ambiente relaxante para todos os que assitiam ao sol a pôr-se (ou ao casal de namorados atrás das rochas a "pôrem-se" um no outro) utilizando músicas criteriosamente escolhidas para o efeito, que vão desde músicas de autores consagrados como Moby, Groove Armada até remixagens de músicas conhecidas, mas sempre naquele tom lento e calmo, com sons de mar, de vento, acompanhados dum beat calminho e relaxado. Há imensos álbuns de música «chill-out», inúmeras compilações do famoso Ibiza Sound, e são todos extremamente caros, sendo quase todos cds duplos e a custar para cima de 25 euros.
Consegui arranjar o Café del Mar vol. 7, de 2000 - o primeiro data de 1993 - em saldo na Worten do Gaia Shopping (uns míseros €4,99, quando o preço original era €16,31) e posso dizer que é perfeito para este verão escaldante. Quer na praia, quer na piscina, quer em casa, a música Chill-Out é para se ouvir ao entardecer - e não pela noite dentro como fazem todos os bares que tenham "música ambiente". Quando o sol começa a pôr-se, escolho uma ou duas músicas destes álbuns para ouvir enquanto disfruto do "lusco-fusco" a que se referiam os malandrecos do Gato Fedorento. São só 5 ou 7 minutos, mas está criado o ambiente, uma combinação estética entre Natureza e Homem.
Para ajudar ao cenário, misturo este "pôr-do-sol musicado" com uma ou duas bebidas preparadas para o efeito. Se estivesse em Ibiza bebería uma bebida à base de frutos naturais com um ligeiro travo alcoolizado (pronto, eu admito, vodka com laranja ou dois gin-tónicos bem servidos para um exemplar portuense de quase 29 anos como eu) mas, uma vez em Portugal e a morar no norte sob o olhar paternalista da famelga e gato, lá terá que ser outra vez a litrada de Tang de Maracujá, numa caneca cheínha de gelo picadinho, deitadinho na espreguiçadeira com um exemplar antigo da maxmen.
Podía ser pior.
Ao menos não tenho que aturar sogras desdentadas a dizer, em constante repeat, "ai foda-se que tá calor; ai foda-se pró caralho do calor!"ou enteados com fraldas já acastanhadas desde manhã, com ranho seco no queixo e a cara besuntada de tulicreme e melão.
Calma.
Chill-out.

Cinefilia: O estranho mundo de Jack (2)

JACK: "My dearest friend, if you don't mind
I'd like to join you by your side
Where we can gaze into the stars!"
JACK AND SALLY: "And sit together, now and forever
For it is plain as anyone can see
We're simply meant to be!"

Cena final do filme The Nightmare Before Christmas, o mais brilhante filme do cinema stop-motion de sempre, onde Jack finalmente se declara a Sally, sob o céu estrelado de Halloween Town.

Cinefilia: O estranho mundo de Jack (1)

"Oh, somewhere deep inside of these bones
An emptiness began to grow
There's something out there, far from my home
A longing that I've never known!"
Jack's Lament, o monólogo de Jack Skellington no filme

Fumar ou não fumar?..eis a questão?


Foto enviada via e-mail por António Cardinal.

Kurt Cobain Dixit!

"Punk is musical freedom. It's saying, doing and playing what you want. In Webster's terms, 'nirvana' means freedom from pain, suffering and the external world, and that's pretty close to my definition of Punk Rock"!

Kurt Cobain

Tricky: Primeiro entranha-se e depois estranha-se...muito!

Ouvi pela primeira vez este álbum em casa do meu primo Carlos, acabadinho de sair das prateleiras frias da loja para o quentinho da aparelhagem caseira. Naquele tempo não havia downloads nem iPods e a malta com gostos minimamente alternativos se quisessem ouvir um som de «jeito», tinha que poupar as coroas do ordenado para dar 3 contitos por um cd, que tinha que ser muito bem escolhido, muito ponderados os prós e os contras, a durabilidade que o cd viría a ter no tempo, nos nossos gostos e no mainstream em geral versus 3 ou quatros notas de mil réis.
Pre-millenium Tension de Tricky tem esse condão de, para além de ser raro encontrá-lo à venda, de parecer completamente intemporal, simplesmente porque é um álbum, na minha opinião, completamente à parte na estética do trip-hop a que nos habituamos a ouvir. Um som alucinatório, completamente obscuro e paranóico: ouça-se logo as guitarradas estridentes na primeira faixa Vent e já percebem do que estou a falar. Gosto sobretudo de Christiansands, o primeiro single a sair, especialmente da voz cavernosamente rap de Tricy Kid em dueto com Martina ("You and me, what does that mean?Always, what does that mean?
Forever, what does that mean?) e do sedutoramente depressivo Makes Me Wanna Die.

Pre-millenium tension, não é um prato de digestão fácil, só para ouvidos já muito calejados e experientes neste género, de quem passou horas e horas a ouvir a saudosa Radio Voxx.
Tricky mistura sons negros e ambientes paranóicos à sua velha escola rap hardcore.
Posso estar engando, mas gostaria de destacar este álbum, para além da colaboração nos Massive Attack e restantes álbuns, como a sua obra-prima. Não há nada, mesmo dentro do imenso mar do trip-hop, um afluente tão caudaloso e sombrio como este.

Pre-millenium tension é negro. Como a noite. O som é frustrante. Ansioso. A respiração é lenta, ofegante, pesada.
Este ábum não é bonito.

17.7.06

A verdadeira conspiração!

Nas sociedades ocidentais democratizadas, o casamento cumpre o mesmo papel que a pornografia, o tabaco e a publicidade: estimular o desejo sem nunca o satisfazer. Criar o vício e perpetua-lo e criando, ao mesmo tempo, todo um sistema para combater isto: médicos, advogados, padres, etc. É a velha dupla: sem pecado não há necessidade de salvação, sem necessidade de salvação, não há necessidade de padres, e por aí fora.
Eu acredito que há uma conspiração: Uma sociedade voltada maquievelicamente para o sexo e para a reprodução e não, ao contrário do que toda a gente pensa, para o "consumismo". É inútil atacar o consumismo, ou os média sem atacar primeiro o que leva as pessoas a consumir: sexo e reprodução, dois conceitos unos e indivisíveis, apenas separados pelo uso de anti-concepcionais. Todo o consumismo está voltado para a satisfação sexual, com o objectivo de nunca vir a acontecer. Por todo o lado se vê a «conspiração», toda um sistema, toda uma economia voltada para o bom e velho "pinanço": revistas porno, canais de tv, telenovelas, artigos de beleza, posters gigantes em todos os shoppings de mães com bébés ao cólo, outdoors com famílias na praia, no campo, nas montanhas, casais enamorados nas bahamas, fotos de rostos masculinos impecavelmente barbeados, mulheres bem depiladas e sem borbulhas, garotas lindas com o telemóvel de última geração, o fio dental, putos felizes com a mochila nova no regresso às aulas, até há "música para fazer meninos" - tudo está bem cozinhado e preparado pelo «sistema» para subverter a populaça aos seus "naturais instintos" para a constituição familiar. Tudo é feito em função do "casal", da união, da procriação, da descendência, da família.
Já repararam que não se vê publicidade, ou o que quer que seja, dirigida às pessoas no singular. Não há um "leia um livro este verão", o que há é sempre o mesmo «conselho»: "vá para a praia, no seu carro novo a pagar em prestações durante 5 anos, com a família toda, leve o cão, a mala térmica, a tenda novinha comprada em saldo, o protector solar mais eficaz, a bola de praia, os melões com talão de 50% de desconto, o bikini novo de marca, o bronzeador para colocar no corpinho acabadinho de malhar durante 5 meses em ginásios e health clubs, aquelas comidas de dieta aconselhadas pelo nutricionista, para reduzir o caudal banhoso das ancas e da peidola, para agradar ao marido, ao namorado e à restante maralha masculina que vai para a praia vislumbrar a mulherada a fritar ao sol".

"A essência da conspiração a que todos somos sujeitos e em que todos estamos inconscientemente envolvidos assenta num sistema completamente virado para o desejo sexual e para a reprodução e não para a felicidade e bem estar, onde o objectivo (como na pornografia) não é só fazer-nos acreditar que podemos ter aquilo que desejamos: é fazer-nos acreditar (como no casamento) que aquilo que desejamos nos pode fazer felizes."

Uma dupla conspiração desde a aurora dos tempos, assinada por baixo por todos nós.
A conspiração existe e está aí em todo o lado. Isto é apenas a ponta do iceberg..... e que pode ser adquirida a metade do preço se ligar para o número a passar agora no rodapé do seu.....

Strangelove



Strangelove dos Depeche Mode, a "sinth-pop" em toda a sua máxima plenitude, rigor e estilo criativo. Para matar saudades, aqui fica o "clip" para ver e ouvir aqui.

Para o Filipe Fontes, Paulo Silva e António Filipe.

Depeche Mode, Playing the Angel Tour. 8 de Fevereiro, 2006. Lisboa, Pavilhão Atlântico. Estivemos lá.

A perfeição é útil?

Desisti de ir para o ginásio da mesma maneira como desisti de ir à igreja: chega-se sempre a uma altura em que se deixa de acreditar quer na perfeição física quer na perfeição espiritual. Somos todos pecadores. O que interessa se somos magros ou gordos? O objectivo devería ser atingir a felicidade e não o mero bem-estar. Consigo próprio ou com Deus. A única forma de perfeição é deixar de ter objectivos.

16.7.06

Cinefilia: Love and Death de Woody Allen!

Este é o unico filme do Woody Allen completamente concebido numa base de humor non-sense. Love and Death estreou dois anos antes de Annie Hall, o filme que confirmou Allen como um realizador "hollywoodesco" (menos) e nova-iorquino (mais). Love and Death, filmado na Hungria e em Paris, é uma sátira à Rússia do sec. XIX, onde Allen interpreta Bóris, um Russo covarde que é recrutado pelo exército russo para ir combater na frente de combate contra o grandioso exército francês, liderado por Napoleão e, juntamente com Sonja (Diane Keaton) planeia assassiná-lo. Isto é o mote. O que se segue e se pode ver no filme é a mais pura comédia tresloucada, realizada por Allen, com cenas hilariantes, de que Allen depois começou a abdicar para entrar mais no mainstream da comédia bem escrita e oscarizável. Com Prokofiev na banda sonora, Allen satiriza neste filme toda a cultura de "leste" (lembrar Bergman, Tolstoy e Dostoievsky), parodiando todo este universo, elevando-o a um nível de sofisticação cómica tal que delicía tanto a plebe pseudo-intelectual como o espectador proletário viciado nos Malucos do Riso...

Aqui ficam algumas Citações do Filme:

Mother: He'll go and he'll fight, and I hope they will put him in the front lines.
Boris: Thanks a lot, Mom. My mother, folks!

Drill Sergeant: One, two, one, two, one, two.
Boris: Three is next, if you're having any trouble!

Countess Alexandrovna: You are the greatest lover I've ever had.
Boris: Well, I practice a lot when I'm alone.

Drill Sergeant: From now on you'll clean the mess hall and the latrine!
Boris: Yes, sir! How will I tell the difference?

Napoleon: I heard you speaking to someone.
Sonja: Oh, I was praying.
Napoleon: But I heard TWO voices.
Sonja: Well, I do both parts.


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