Ouvi pela primeira vez este álbum em casa do meu primo Carlos, acabadinho de sair das prateleiras frias da loja para o quentinho da aparelhagem caseira. Naquele tempo não havia downloads nem iPods e a malta com gostos minimamente alternativos se quisessem ouvir um som de «jeito», tinha que poupar as coroas do ordenado para dar 3 contitos por um cd, que tinha que ser muito bem escolhido, muito ponderados os prós e os contras, a durabilidade que o cd viría a ter no tempo, nos nossos gostos e no mainstream em geral versus 3 ou quatros notas de mil réis.
Pre-millenium Tension de Tricky tem esse condão de, para além de ser raro encontrá-lo à venda, de parecer completamente intemporal, simplesmente porque é um álbum, na minha opinião, completamente à parte na estética do trip-hop a que nos habituamos a ouvir. Um som alucinatório, completamente obscuro e paranóico: ouça-se logo as guitarradas estridentes na primeira faixa Vent e já percebem do que estou a falar. Gosto sobretudo de Christiansands, o primeiro single a sair, especialmente da voz cavernosamente rap de Tricy Kid em dueto com Martina ("You and me, what does that mean?Always, what does that mean?
Forever, what does that mean?) e do sedutoramente depressivo Makes Me Wanna Die.
Pre-millenium tension, não é um prato de digestão fácil, só para ouvidos já muito calejados e experientes neste género, de quem passou horas e horas a ouvir a saudosa Radio Voxx.
Tricky mistura sons negros e ambientes paranóicos à sua velha escola rap hardcore.
Posso estar engando, mas gostaria de destacar este álbum, para além da colaboração nos Massive Attack e restantes álbuns, como a sua obra-prima. Não há nada, mesmo dentro do imenso mar do trip-hop, um afluente tão caudaloso e sombrio como este.
Pre-millenium tension é negro. Como a noite. O som é frustrante. Ansioso. A respiração é lenta, ofegante, pesada.
Este ábum não é bonito.
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