Foi numa viagem de 8 meses, de Buenos Aires até Guajira, na Venezuela, em Janeiro de 1952, percorrendo milhares de quilómetros de mota, la poderosa, uma Norton 500, a comer pó, à chuva, à neve, a dormir em celeiros, na rua, a engatar miúdas nos barcos, etc, que Ernesto Guevara (mais tarde "Che" ou "El Comandante") e Alberto descobriram o mundo em que viviam e se descobriram a si mesmos. Uma viagem inspiradora que alterou a percepção que eles tinham do mundo ao conhecer a verdadeira realidade da América Latina subdesenvolvida de então: o atraso civilizacional, a medicina rudimentar, a precaridade do trabalhoa, a pobreza, a iliteracia, a lepra e os estigma social ligado a ela, toda uma pleiade de injustiças socias e laborais que levaram Che a formar o seu pensamento político e a articular o que viria a ser o discurso revolucionário, para uns, e utópico, para outros, sobre a injustiça social e a desigualdade na distribuição da riqueza, que inspiraram multidões.
Che queria conhecer as pessoas, humanizar a política e libertá-la do seu conteúdo meramente teórico ou programático, «unir» as pessoas (talvez daí a utopia), apostar na educação, liberdade e justiça social, tema tão caros e controversos ainda hoje na política contemporânea.
Ele quebrou todas as convenções hipócritas, aliás como se vê no filme, ele apertava as mãos dos leprosos directamente e sem luvas, ao contrário de toda a gente, mesmo sabendo-se, de senso comum, que a lepra não era contagiosa. Mas tenho para mim que Che não era utópico - era um idealista: ele acreditava no ser humano e que tudo o que pensava se podia pôr em pratica, talvez, através duma consciencialização social ou duma revolução de mentalidades. Mas era possível e, aliás, todo o seu discurso revolucionário apontava nesse sentido.
Os Diários de Che Guevara é mais do que um filme. É uma viagem. É «a» viagem que mudou Ernesto Guevara tornando-se Che Guevara, o ícon, o símbolo politico, o rosto mais estampado nas t-shirts e bandeiras de todo o mundo.
É impossivel ver este filme e não nos sentirmos um pouco idealistas e sonhadores e, sobretudo, com uma enorme vontade de viajar e mudar as coisas. A começar por nós mesmos.
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