Gosto das tuas mãos, que adormecem na minha cara, embalam o meu sono. Dormem comigo, juntinhas a mim, aproveitando as horas solitárias da noite para me contarem uma história que já sei de cor e salteado. Começa sempre da mesma maneira.
Essas mãos começam por beijar-me os ombros, descansam na minha cara e depois percorrem-me o corpo todo até se cansarem de felicidade. Depois afagam-me o pescoço, descem pelas costas abaixo e espetam-me um punhal dourado que comprei especialmente para ti.
Deitado no chão, esvaindo sangue, ouço a tua voz como se me falasses de longe, de outra época, numa memória que não consigo situar, pedindo-me desculpa uns segundos antes de desferires outro golpe, desta vez mesmo no peito, 3cm abaixo do coração.
Nem sequer pontaria tens, que inútil que me saiste.
"Prometo que é a última vez que te mato", ainda consigo ouvir entre as punhaladas fatais.
"Eu sei", respondo, olhando para as mãos dela, que reviram a faca no sentido dos ponteiros do relógio, para que a ferida nunca mais feche, "esta também é a última vez que morro por ti".
(1999).
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