Hoje acordara com um beijo. Não um, nem dois, nem três, mas com um só beijo. Nesse momento em que os seus lábios refrescaram-se com o doce sabor vindo de lábios invisíveis, acordou do seu sonho de amor e paixão com que adormecera nessa noite. Como dormira fora de casa, deitado no jardim, as suas lágrimas secaram com o vento quente da noite, que viera embalar-lhe o sono, vindo depois a geada e o orvalho fazer-lhe companhia, matanto as saudades que nunca teve do seu amor. Com um beijo, acordara para o mundo e o seu amor renascera como uma bola nas mãos de uma criança.
Com a cabeça pousada sobre a relva, ouvindo nada mais do que o bater do seu coração, abriu os olhos e viu uma núvem cinzentona que pairava sobre si como um abutre sobre uma carcaça.
Depois sente a relva húmida que lhe gela as costas e fazendo um esforço para levantar-se, olha em redor e descobre que o beijo invisível que o fizera acordar para o mundo, enquanto dormia deitado na relva do jardim, foi simplesmente a gosma dum caracol que deslizava descontraído pelos seus lábios.
(1999).
(1999).
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