O Simão e a Ritinha estão zangados há 5 meses. Têm ambos 8 anos. Ela é mais velha um mês. Parecendo que não, é relevante! Em caso de provocação, o que acontece a toda a hora, respondem um ao outro sempre a mesma coisa: «Ó, vai-te embora». Na aula de Desenho, calhou estarem juntos na mesma carteira.
- «Empresta-me um marcador», pede o Simão, mas sem levantar os olhos do caderno. Não é agora que ía dar parte fraca e olhar nos olhos dela. Só é corajoso quando vale a pena, tipo pegar numa lagartixa e atirar às meninas na hora do lanche.
- «Ó, eu não empresto marcadores a hipopótamos feios e desdentados», diz ela, muito alto e rápido, escondendo o marcador debaixo do livro. "Pede à tua «amiguinha», ela deve ter muitos, ou ela só tem dinheiro para gelados e rebuçados?" No fundo da sala, uma menina chamada Carlota corava que nem um pimento assado. A Ritinha faz-se forte, sempre foi forte, mesmo quando ouvía as amiguinhas no recreio a chamarem-lhe «badocha».
- «Empresta-me um marcador», pede o Simão, mas sem levantar os olhos do caderno. Não é agora que ía dar parte fraca e olhar nos olhos dela. Só é corajoso quando vale a pena, tipo pegar numa lagartixa e atirar às meninas na hora do lanche.
- «Ó, eu não empresto marcadores a hipopótamos feios e desdentados», diz ela, muito alto e rápido, escondendo o marcador debaixo do livro. "Pede à tua «amiguinha», ela deve ter muitos, ou ela só tem dinheiro para gelados e rebuçados?" No fundo da sala, uma menina chamada Carlota corava que nem um pimento assado. A Ritinha faz-se forte, sempre foi forte, mesmo quando ouvía as amiguinhas no recreio a chamarem-lhe «badocha».
- «Pronto, está bem, eu vou pedir à...»
- «Ó, não é preciso, eu tenho muitos, escolhe um, ou dois, olha, leva-os todos... fogo, que chato», remata ela, e atira 10 marcadores para o lado da mesa dele, caíndo quase todos ao chão. A turma toda ri. «Calados, meninos», berra a professora.
- «Ó, não é preciso, eu tenho muitos, escolhe um, ou dois, olha, leva-os todos... fogo, que chato», remata ela, e atira 10 marcadores para o lado da mesa dele, caíndo quase todos ao chão. A turma toda ri. «Calados, meninos», berra a professora.
O Simão pega no vermelho e no azul e rabisca durante a aula inteira. Não trocam mais palavras. Ela ainda tenta olhar para o desenho dele, mas ele, de repente, respira bem fundo, como se fosse um pequenino touro quase a entrar para uma arena. Desiste. «Deve ser uma bela porcaria, também...»
Mas de repente sente-se magoada, posta de lado. Ele nem sequer olhou uma vez para o desenho dela, um pequeno colibri verde e vermelho e uma flôr amarela. Nem ela própria sabe que flôr é, está tão mal desenhada que mais parece uma mosca amarela depois de ser atropelada por um camião. O Colibri mais parece um piriquito com epilepsia.De repente toca para sair. Na porta da saída para a rua estava o Simão com o desenho na mão direita. A Ritinha chega-se ao pé dele. Já ía virar costas e fugir mas... mas... "mas porque é que ele olha para mim desta maneira?", pergunta-se ela e decide olhar para o chão, como se estivesse à procura de qualquer coisa.
Sem dizer uma palavra, o Simão aproxima-se dela, entrega-lhe o desenho e foge a correr para casa. «Parece parvo», pensa a Ritinha, e olha para o desenho.
No final da página, por debaixo do desenho, tem uma frase escrita, com a letra meio escorrida, como se tivessem caído duas gotas de água em cima das palavras.
No final da página, por debaixo do desenho, tem uma frase escrita, com a letra meio escorrida, como se tivessem caído duas gotas de água em cima das palavras.
No dia seguinte deram o primeiro beijo.
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