19.5.12

Carinho especial? Está bem, está!

Detesto mulheres que estão sempre a dizer às amigas que «ainda sentem um carinho especial por ele»: um ex-namorado, um ex-marido, um ex-qualquer coisa. Desde quando é que um amor passa a carinho especial? E quando é que passa de carinho especial a simples amizade? É como passar de cavalo para burro. Há ainda quem passe de amor diretamente para a amizade e sem passar pela casa partida e recolher os 20€! É como passar de cavalo para andar a pé, sem passar pelo burro. Tenho para mim que uma mulher que sente um carinho especial por alguém que 'supostamente' amou, é porque nunca sentiu por ele mais do que isso: um carinho especial.
Haverá palavra mais odiosa do que carinho especial? Carinho especial sinto eu por um cão ou por um gato. Sinto por eles carinho suficiente para não os deixar dormir na rua. Mas não consigo sentir um carinho especial por uma ex-namorada. Amei-as e prefiro ignorá-las ou ser indiferente à vida patética que levam a sentir carinho especial por elas. Sinto carinho por elas, muito carinho, como se fosse um lembrete dum amor que existiu, mas não sinto um carinho especial.  
Carinho é uma lembrança verdadeira. O carinho especial é uma lembrança magoada dum amor que ainda não está esquecido. Carinho é amor. Carinho especial é a negação desse amor.
Desculpem lá: um amor, grande ou não, pode até acabar mas não pode acabar em carinho especial.  Não é um patamar ao qual o amor deva «descer». Não pode.
E o que é o carinho especial? Para elas é aquele sentimento que fica depois dum amor que se partilhou, uma pequena lembrança saudosa dos bons momentos que passaram juntos e outras tretas. Para eles não há carinho especial. Há amor e o fim desse amor. Há saudade, há querer voltar atrás, querer esquecer, querer seguir em frente, querer que ela se foda, mas não há carinhos especiais. Nenhum homem com os tomates no sítio sente qualquer carinho especial por uma ex. Ou ama-a ou odeia. Já viram dois «ex's» quando se encontram? Parecem dois mágicos a fazer truques de cartas um ao outro. Para quê? Já conhecem os truques todos. Já sabem qual é a carta que vai sair. Já não me lembro de ver um azedume na rua, uma má cara ou um semblante carrancudo por parte de dois amantes. Toda a gente quer seguir em frente e não sofrer, porque não vale a pena sofrer quando o melhor é fazerem as pazes e serem amigos. Está mal. Está muito mal.
Adoro o carinho, como se fosse um amor pequenino ou servido em doses pequenas, como beijinhos, abracinhos e outras meiguices. No carinho especial  não há meiguice - há pieguice.
Quero deixar aqui bem explicito que odeio o tal carinho especial. Prefiro o bom e velho rancor ao carinho especial. Prefiro um «vai-te foder» a um «então como estás?». Eu nunca disse, nem nunca ouvi nenhum homem dizer que «ainda sente um carinho especial» pela sua «ex». E porquê? Sentir um carinho especial por quem se amou mais do que a própria vida é desonrar esse amor. Não há pior insulto para um homem do que ouvir duma mulher que supostamente o amou, que ainda sente por ele um «carinho especial». É pior do que lhe tivessem chamado cabrão ou corno.
Prefiro que as minhas ex me odeiem e me guardem rancor para o resto das vida delas, do que sentirem um carinho especial por mim e queiram ser minhas amigas. Nunca vamos ser amigos de verdade. Nunca. Ponto final. Depois do amor não pode haver amizade. Uma coisa não leva à outra. A minha ex de vez em quando telefona-me e vamos tomar café. Chama-me sempre "migo" e diz que sou o melhor amigo dela, mas a verdade é que não sou. Tou a cagar-me. Apaixonei-me por ela e nunca quis ser, nem nunca serei, amigo dela. A paixão existe, a amizade não.
Quando acaba uma relação entre duas pessoas que se amavam e elas tornaram-se amigas depois é porque nunca foram mais do que isso. A verdade vem sempre ao de cima. Ou não?

1 comentário:

G Venceslau disse...

Penso que quando as relações terminam, desejamos que haja essa tenura dormente e inexplicável porque num dos lados, ainda há amor (ou, no limite, alguma coisa parecida com isso), no entanto, acabamos por ter sempre outras vontades, feitas com outras meiguices perdidas, olhos nos olhos. Temos apenas o contrário...

Pessoalmente, ainda tenho momentos de onde gostava de não ter despertado... mas no fundo, acredito que quando o amor acaba, não há lugar a mais nada. E espero que não haja...