Hard Club. Sexta-feira. Já passava da meia noite. A cinderela foi-se na carruagem, ficaram os carroceiros. Nós. A última vez que estive ali foi em 1998 para ver os "2kill", antiga banda de Mr.Bike que agora integra uma nova orquesta sinfónica: Os The Jills.
Casa pequena, meia dúzia de gatos pingados, como convém a uma banda pequena em plena ascensão. Entrada: 2€. No palco, a abrir as hostilidades, antes dos RockPoets, os The Jills, banda auto-intitulada de punk-rock. Rock, sim, a música. Punk, não, nada. Excepto a pose artística. O punk (música, letras e restante iconografia) tinha conotações políticas e morreu no fim dos anos 70. Mas a banda até tem uma certa atitude punk, lá isso tem, na medida em usam t-shirts e ícones punks: a correia do autoclismo nas calças de ganga coçadas, sapatilhas all-star, barba de 3 dias, beata ao canto da boca tipo velhote no parque a jogar à bisca, palavreado de rocker tipo «oh yeah baby».
Falando de rock, a «rockar», logo a abrir, tocaram Black Mamba, um conjunto de poderosos riffs destilados por guitarras estridentes (a qualidade literária desta frase deve-se à suposição de um futuro reembolso de uma cervejola fresquinha por parte de Mr. Bike). Noto a assistência a começar lentamente a acordar e a mexer os bracinhos no ar. Depois, segue-se Got a M.F. On My Back, o sedutor Tired and Wasted, Love Me For The Money, entre outras, até chegarmos à minha preferida, La Petite Putaine de Paris - simplesmente porque gosto de Putaines e de Paris - uma mistura subtil de rock com uma pitada de «cabaret moulin rouge», que me agradou bastante e acho que se for mais aperfeiçoada pode vir mesmo a ser um "hit-single"da banda.
Mr. Bike entrega-se de voz e alma a uma rebeldia sem causa aparente, arrastando os ossos pelo chão do palco ao som espasmódico da música. Nota-se ali uma certa rebeldia a la Kurt Cobain, completamente enraizada nas veias dos rockers actuais: vocalizações angustiadas, posturas urbano-depressivas, a despontar numa fúria incontida, como convém à pose (porque punk-rock é uma mistura de dois sabores que se anulam um ao outro, ficando apenas a bonita côr da mistela). O resto da banda tudo fez para animar a malta. E a malta animou-se. Era rock. Puro.
A acabar, a música "Oh Yeah", que foi cantada competentemente por todos, uma espécie de hino da banda para levarmos no ouvido à ida embora.
Um concerto pequeno, mas esforçado e eficaz. Não é apenas um bom começo - é uma experiência positiva para a banda, um óptimo incentivo, um puxão de orelhas disfarçado de palmadinha nas costas. O rock dos The Jills é um Rock bem comportadinho e limpinho, rock tipo "come a sopinha toda", embora não conseguindo disfarçar, aqui e além, alguns maneirismos e tiques punk, estilo tourette síndrome: "Que se foda a sopa e as couves eu quero é bifanas com cerveja, fuck this!". O punk-rock dos The Jills é mais rock e menos punk: 98% por cento das músicas são puro rock, com repetição do chorus até à exaustão, e 2% são punk, nomeadamente a indumentária e meio dúzia de palavrões pelo meio para intimidar a populaça.
Competentes e esforçados. Objectivo cumprido.
Ver alinhamento do concerto aqui.
Ver blog da banda aqui e ouvir algumas faixas da banda aqui.
A segunda parte, coube aos RockPoets, que não conheço mas já ouvi algumas canções deles no myspace e posso dizer que para quem gosta de rock, puro rock, e nada mais do que o rock, não vai ficar desiludido. Achei o som da banda cativante, tipo "old-school", a fazer lembrar o Seattle Sound no início dos anos 90 e, até certo ponto, o estilo e som dos 2kill, a banda antiga do Mr.Bike. A ouvir Stupid Lady, Rockpoets e Ramones Cover.
Neste Blog também há espaço - e haverá sempre - para divulgação de bandas novas e, como tal, aqui fica o site da banda http://rockalhadas.blogspot.com.
Ou se quiserem ouvir algumas faixas podem ouvir os RockPoets aqui.
10 comentários:
...No fim o que realmente importa é a musica e o público.
Obrigado pelo post.
Encontramo-nos por ai e certamente mais rock doque punk...
Mas a música é mesmo fixe e vocês, sem dúvida, rockaram e muito.
Abraço. Já tenho o álbum no iTunes para ouvir, graças a mr. Bike.
abraço a todos.
Creio que apanhaste bem o sentido do nosso trabalho. Não temos pretensões de fazer arte maior. O Mr. Bike não quer ser um "escritor de canções" do calibre de um, digamos, David Fonseca ou mesmo do rapaz dos Toranja, cuja poesia raia o génio. E os restantes membros da banda só querem impressionar as namoradas e ganhar mais uma sessão de sexo sem necessidade de preliminares.
Bem, agora a sério, só queremos divertir o público. Se alguém sair de um dos nossos concertos sem se ter divertido, é menos um ponto a nosso favor. Porque esse é também justamente o nosso objectivo pessoal: divertirmo-nos. E é nesse sentido que acabamos por brincar com as catalogações "punk" e outras que tais. É óbvio que a nossa música não é punk, no sentido mais puro do termo. E a nossa postura no palco também não pretende contribuir para isso.
Enfim, desculpa estar a ocupar tempo de antena no teu blogue. Mas creio que o teu post é na generalidade justo. Mas faltava dizer isto: não estamos aqui para chegar aos tops e não alimentamos nenhumas pretensões artísticas. Queremos divertir-nos e divertir o público. Não é isso a essência da música e do rock?
Deixa-me apenas acrescentar uma coisa. É que agora, lendo o comentário que fiz, pode ficar a ideia de que não levamos o nosso trabalho a sério. E isso não pode estar mais longe da verdade. Preparamos cada concerto com o máximo cuidado. Promovemos cada espectáculo com a maior dose de profissionalismo de que somos capazes. E damos o nosso melhor em cada momento. Acima de tudo, acreditamos no que fazemos. E estamos muito felizes com o nosso trabalho.
sem dúvida alguma, um dos cocnertos que mais me agradou ver nos últimos tempos, e a banda com quem mias gostei de partilhar um palco. The Jills rock the place.
Leroy: é verdade tudo o que disseste. Acima de tudo divertir-mo-nos com a música, rock ou punk. Notei que houve muito cuidado e preparação com a música e parte do vosso profissionalismo passa pela diversão. Eu diverti-me. E vocês são uma banda a sério: Canções, ritmo, talento, atitude e postura. O resto é uma questão de sorte. Lembro-me do pessoal no hard club que estava à minha beira divertiu-se mesmo, e a música tinha pedalada. Mas não é só isso - e esqueci-me do pôr no texto - nota-se que há um amor e um gosto por aquilo que tocam e fazem, vê-se que não estão a enganar ninguém, divertem-se com aquilo que fazem e mostram-no em público. Um concerto honesto e harmonioso.Por enquanto vai sendo esse o encanto das bandas pequenas sem grandes pretenções: A honestidade.Abraço á banda.
É verdade, parte do mérito vai para os rock poets que partilharam o vosso palco na música "OH Yeah": fraternidade no rock português, a união pela mesmo amor à música. Rock!!
Nelson, obrigado pelo teu post! Sem dúvida que transmite quase na perfeição o que se passou no Hard Club. Leroy, com textos desse calibre foste promovido a relações públicas da banda, gostei!
Rock Poets you rule! Adoramos tocar convosco! Foi sem dúvida a banda com que mais nos divertimos até hoje! A repetir.
O rock não saíu nada mal representado!
Rock On!
Agradeço-te a referencia aos nossos "espaços". Continuação de bom trabalho. E os "The Jills"...claro que podemos tentar escrever acerca deles, mas apenas estando presente num concerto ao vivo deles é que se tem noção do que esta banda é. Espero ansiosamente pelo próximo concerto deles, e já começaram os esforços para que as duas bandas se tornem a encontrar em palco. Em relação ao teu blog...muito bom. ROCK ON!!!!
Obrigado Rockpoet: Rock on!
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