Uma das melhores combinações do mundo é, sem dúvida, como no filme de Jim Jarmuch, café e cigarros. Dizem-me, quem os toma e quem os fuma. A minha preferida é café, sim, e se possível, o delicioso Buondi ou Lavazza, acompanhado não por 2 pregos da marlboro mas por um cremoso e estaladiço pastel de nata. Um casamento perfeito de sabores que, nos casos de maior boémia, pode ser traído ou completado com umas baforadas de cigarro. Pessoalmente, gosto de finalizar o café com umas dentadas no corpinho rechonchudo duma nata, acabadinha de sair do forno, fazendo sempre aqueles ruídos de mastigação orgasmáticos de prazer assumido sem vergonha.
Gosto de cafés. Gosto de natas. É verdade. Tomar café e juntar-lhe uma nata estaladiça com uma pitada de canela (um pequeno toque de requinte culinário) é o casamento perfeito, sem possibildade de infidelidade ou aparente divórcio - um casamento para a vida até que o colesterol elevado os separe!
Casas há que façam as natas de forma tradicional, sublime e crepitante: aqui perto de minha casa há uma confeitaria, a Quinta dos Bispos, que as confecciona de forma divinal, umas vezes com um travo adocicado a limão, noutras vezes, em dias de menos inspiração, com um sabor estranhamente neutro, somente açucaradas, tendo que se fazer cair um pequena chuvinha de canela para dar aquele toque glutónico de requinte para aperfeiçoar a degustação. Já percorri algumas confeitarias em busca do pastel de nata perfeito para combinar com o café. Gaia e Porto. Já encontrei de tudo: natas rançosas, natas do dia anterior, pastosas, secas e duras, etc. Cafés é o que se sabe: por muito fraquinho que seja, lá vem a natita cremosa para redimi-lo. Gosto. Gosto muito.
O meu pai ainda completa a trilogia pecaminosa com umas baforadas de tabaco, de forma pausada e reflexiva, para não perturbar a harmonia interior. É um começo. É uma filosofia de vida.
Há quem beba descafeínado (uma mariquice), café cheio (outra mariquice, só que mal disfarçada), pingo (nem vou comentar este), carioca de café (mais parece a versão gay dos cafés, uma espécie de café light) e, horror dos horrores, carioca de limão - que só bebo, mea culpa, em dias em que não posso tomar café, uma água fervida com uma raquítica casca de limão, uma espécie de digestivo medieval para pobres. Não é a mesma coisa. Não é café. Água quente é para lavar os pés ou para combater, nos ditos antigos, diarreias mais agressivas (já repararam que, sem pretender escrever um texto humorístico, consegui juntar no mesmo texto natas e diarreia, o que é um caso incomum e sem precedentes na blogosfera portuguesa) ou dar uma enxaguadela aos intestinos (lá está, «intestinos», outra pérola de humor bem utilizada para não ferir consciências, evitando o uso de termos mais brejeiros como «esfíncter» ou «tripas»).
Não fumo, mas admito que uma cigarrada depois de tomar café deve saber pela vida, com aquele sentido de transgressão inerente ao tabaco, visto que se tornou hoje em dia políticamente incorrecto fumar onde quer que seja mas, para mim, não tem aquele pecadozinho da gula que só uma nata cremosa e estaladiça pode proporcionar ao espírito pecador, ainda incompleto com a dose de cafeína ingerida.
Café e nata: um pequeno-grande prazer. Tem que satisfazer completamente, e nunca menos do que isso, senão não é digno do adjectivo.
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