23.8.06

A família: jantaradas, mocas e saudades neste verão!

Um dos maiores prazeres do mundo não é só fazer novos amigos, que também é uma coisa sublime per si: é rever os bons e velhos amigos, os de sempre, os da infância, os da escola, os que nos "levavam ao poste", os que nos engatavam miúdas, arranjavam tabaco, pagavam a bilharada e emprestavam todo o arsenal porno que tinham escondido, os que copiavam de nós nos exames, os que nos obrigavam a fazer os trabalhos de casa sob pena de ir para casa com "um olho à belenenses". É tão engraçado. Todas as frases começam sempre com "e lembras-te daquela vez em que nós...". Sempre. Só um bom amigo trás boas recordações. O mais estranho de tudo, agora que estamos juntos e tão perto uns dos outros afinal de tudo, é que chegamos à conclusão que nunca nos esquecemos uns dos outros, apesar da separação nos ter feito pensar o contrário, que nos tinham esquecido ou abandonado ou que seríamos apenas um ser do passado plantado num ábum de fotografias. Não. Não somos. Estamos todos aqui. E somos os mesmos, na essência, nunca mudamos, o cabelo cai, a barriga avoluma-se, as namoradas desaparecem sem deixar rasto, os filhos já nos dão pelos joelhos, mas no fundo, no fundo, somos os mesmos sacanas de sempre, sempre a fugir ou a lutar, sempre a "ir ao poste" ou a levar outros ao poste. Somos putos envelhecidos, chavalos com rugas, putos ranhosos com brancas.
Sim. Trabalhamos e ganhamos dinheiro e gastamos ajuizadamente na prestação da casa ou do carro da amante mas, no fundo, no fundo, só queremos é estourar a mesada inteira em «chiclas gorila», gelados de 20 cêntimos e sacos com dois quilos de gomas que tem de caber nos bolsos, atirar farinha à tótó da turma que faz anos hoje, tocar às campainhas e fugir.
Sim, temos carros, mas não queremos ir para o trabalho neles ou passear: queremos é andar aos carrinhos de choque na IP5, queremos sacar piões e fugir da bófia a beber imperiais pelo caminho. Mas não fazemos nada disso. Trabalhamos, casamos, procriamos. Envelhecemos. E criamos uma família que chamamos nossa e à qual nunca iremos realmente pertencer. A nossa familia são as pessoas que amamos e detestamos, é aquele puto gordo que não consegue saltar no trampolim nas aulas de educação física, é aquela rapariga magrita de óculos de fundo de garrafa, é aquela gorducha cheia de acne, é aquele gordo de 2 metros com a barriga do tamanho dum barril de petróleo, que enfia os caloiros no caixote do lixo, é aquele homem que nos vem contar a luz em casa.
A minha familia és TU.
É isto. A nossa família. Não a que nos criou. Mas a que nós criamos todos juntos. Família não é um grupo de individuos do mesmo sangue com os quais vivemos e fomos criados. Família são todos os que amamos e vivem dentro de nós. Família é o "próximo" a que a Bíblia se refere. E o próximo sou eu e és tu. Somos nós. E estamos aqui.
Mesmo dizendo isto em que acredito, continuo a não saber responder à pergunta "o que é viver?" Mas gostava de deixar à consideração uma pequena pista: é preciso viver de forma a fazer viver os outros. Será filosófico de mais ou percebe-se bem?

(Para a Betinha, Jorginho, Marta e Nuno, Patrícia e Franklin). E para o Leonel e Luzia que casam dia dois de Setembro. Felicidades aos noivos e lá estaremos se tudo correr bem.

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