Tenho recebido imensos e-mails - pronto, vá lá, 2 ou 3 e-mails, mais uma cartita dum aborígene que recebi por pombo-correio, ao estilo harrypotteriano, e 3 sinais de fumo de dois eremitas que vivem numa toca de urso abandonada, pelos vistos completamente apetrechada com Net Wireless - a perguntar, precisa e malcheirosamente, assim do pé para a mão - "mas que merda é que te deu, ó meu estafermo do cara****, para acabares com o blog?" Fiquei espantado. Nunca pensei que este misero estaminé tivesse mais do que 3 ou 4 clientes. E pelos vistos, pelas minhas contas, teve.... 5!!!! Já não foi mau.
Mas tudo tem um fim, e o fim deste blog foi trágico e teve as suas repercussões: o computador ressentiu-se com a gradual diminuição de posts, o rato deprimiu-se e passou todo o dia a prozac, o monitor amuou e já não me olhava de frente: tive que fazer uma ginástica dos diabos para escrever este post e andar com a cadeira à volta da secretária, fazendo círculos de 360º para tentar ler o que escrevia.
Escrever num blog é como namorar: Às vezes apetece muito, outras não apetece nada, umas vezes dói a cabeça, outras está-se muito cansado. Enfim.
Os blogs são como os namoros - não é preciso nenhuma tragédia para acabar um blog ou um namorico - basta uma birra, fazer beicinho, cruzar os bracinhos e amuar.
A melhor maneira de acabar um blog, qualquer que seja ele, é enquanto ele está em grande (este nunca teve) e nunca quando já está em decadência. Não é por o blog ser bom ou ser mau, ser lido ou não - é pela maravilhosa capacidade, e liberdade, de podermos dizer "para mim chega; já está bom assim; não é preciso mais; não quero mais; a conta, por favor!"
E já agora, mais uma vez, obrigado a todos os que por cá passaram.
Nelson Mendes
25.12.06
Último Post!
Então pessoal? Mais um ano que acaba, não é? Que tal vos correu? O meu até correu bem, mas qualquer um, misérias à parte, com o bandulho cheio de bacalhau bem regado de tintol, rabanadas e bolo-rei, era incapaz de dizer o contrário.
Este é o último post deste blog.
Quería desejar a todo o pessoal que acompanhou este estaminé muito sucesso e felicidades.
PS - 2006: Balanço final: Muitos morreram, outros ficaram assim.
Este é o último post deste blog.
Quería desejar a todo o pessoal que acompanhou este estaminé muito sucesso e felicidades.
Nelson Vítor Mendes.
PS - 2006: Balanço final: Muitos morreram, outros ficaram assim.
21.12.06
Um filme para este Natal!
Está tanto frio lá fora que quase nem vale a pena o Pai Natal descongelar as nádegas do sofá para vir cá. O frio é tanto que o Pai Natal, em vez de gritar alarvemente «HO HO HO» vai encolher os ombros e, com as pernas a tremelicar, simplesmente murmurar entre dentes «Brrrrrr! 'tá cá um briol que até congelei o tomate esquerdo!» Sim, no único dia do ano em que o Pai Natal trabalha, é provável que este ano meta baixa. Vamos então nós até casa dele, ao Pólo Norte. Não sabem ir? Então, vai-se pela VCI, corta-se na A3 e depois é sempre para norte. Anda-se é «de carago», é certo. Um caminho mais fácil é simplesmente ficar em casa, confortável no sofá, com a famelga espalhada pelos cantos da sala e ver o "The Polar Express" do excelente Robert Zemeckis (Forrest Gump, Contacto, Regresso ao Futuro). O filme estreou há dois anitos mas façam de conta que estreou este ano. Vejam que vale a pena. Tem uma imagem espectacular, efeitos deslumbrantes e a voz inconfundível do Tom Hanks. Um filme de natal para crianças e adultos.
10.12.06
Massive Attack: O Início
Foi aqui, «Daydreaming» do álbum Blue Lines. Estavamos em 1990, a salvação da pop vinha de Bristol, depois do enterro da famosa «Madchester» dos The Smiths, Happy Mondays, etc, e antes da bipolarização Guns/Metallica e ainda mesmo antes dos Nirvana. Muito antes do Techno, da Britpop oásica e blurística, o que se ouvia era o Trip-hop com letras rap dos Massive Attack: denso, urbano e lento como uma batida de coração. Que ainda bate.
6.12.06
O admirável mundo novo da educação!
Uma conhecida minha, professora de Português há mais de 10 anos, disse-me que viu-se obrigada a pôr na rua um aluno malcriado que lhe disse «anda aqui chupá-la!». Já tinha ouvido de outra fonte o caso dum aluno que virou-se para a professora e lhe disse, e cito, «esteja mas é calada que você é uma vacazita que anda aí...»
Anda toda a gente a discutir se se deve ou não tirar os cruxifixos das escolas quando, dia após dia, quem são cruxificados pelo sistema são os professores. O Portugal do «respeitinho» deu lugar ao Portugal do «põe-te fino ou levas no focinho!» De temidos e respeitados, os professores passaram a escorraçados e sovados. Chocados? Haverá solução à vista? A meu ver, devia voltar a fazer parte do «sistema» o uso regular e permante da boa e velha palmatória nas mãos, da boa e velha vergastada nas orelhinhas, da sempre eficaz palmada no rabo, em suma, a boa e velha coacção. Só através da coacção é que a escola pode recuperar a autoridade perdida. Mas resolverá isto o problema? Sim e não, porque o problema é mais complexo do que isso. Pela minha parte acho que convinha lembrar a quem fôr um pouco mais ingénuo nestas matérias que - e esta é que é a suprema verdade - não adianta tentar ensinar o que quer que seja a quem não quiser aprender.
Anda toda a gente a discutir se se deve ou não tirar os cruxifixos das escolas quando, dia após dia, quem são cruxificados pelo sistema são os professores. O Portugal do «respeitinho» deu lugar ao Portugal do «põe-te fino ou levas no focinho!» De temidos e respeitados, os professores passaram a escorraçados e sovados. Chocados? Haverá solução à vista? A meu ver, devia voltar a fazer parte do «sistema» o uso regular e permante da boa e velha palmatória nas mãos, da boa e velha vergastada nas orelhinhas, da sempre eficaz palmada no rabo, em suma, a boa e velha coacção. Só através da coacção é que a escola pode recuperar a autoridade perdida. Mas resolverá isto o problema? Sim e não, porque o problema é mais complexo do que isso. Pela minha parte acho que convinha lembrar a quem fôr um pouco mais ingénuo nestas matérias que - e esta é que é a suprema verdade - não adianta tentar ensinar o que quer que seja a quem não quiser aprender.
2.12.06
Aforismo Possível
Regra geral, no que toca ao amor, só há dois tipos de mulheres: As que querem um homem cheio de qualidades e as que querem um homem sem defeitos. As primeiras desapontam-se, as segundas aborrecem-se.
25.11.06
As aventuras do Cozinheiro Suiço dos Marretas: Bork! Bork! Bork!
O Swedish Chef dos Marretas é, talvez, a personagem mais engraçada, pelo menos para mim, de toda a história da animação infantil. São os trejeitos dele - os maneirismos, o discurso ininteligível(isto é, para quem não sabe falar sueco), o bigode farfalhudo, as colheres a voar pela cozinha fora, contra os móveis, o barrete branquinho, a maneira como a comida, que ele quer preparar com afinco, se revolta contra ele e dá luta ou foge da panela - que me encantam.
Adoro aquele sketch em que ele para fazer donuts atirava bolachas ao ar e dava tiros de caçadeira acertando mesmo no meio das bolachas. E também aquele episódio em que ele está a fazer uma mousse de chocolate e barra chocolate quente no focinho dum alce (alce=mousse), besuntando-o todo.
Enfim, tantos, tantos episódios embuídos dum humor inglês completamente nonsense tirado da mente genial de Jim Henson. A programação infantil, e as pessoas com mais de 30 anos sabem disso - desde Os Marretas, a Rua Sésamo, Era uma vez a vida, O Brinca Brincando, e até a programação infantil de leste de Vasco Granja, etc - nunca mais foi a mesma; deixou de haver quer uma componente pedagógica-didática ou mesmo lúdica na estética de criação de programas infantis, atendendo apenas a criação de personagens com uma lógica publicitária de mercado - veja-se o caso Noddy, Floribella, etc.
Se quiserem façam um simples exercício mental: Comparem o Tom Sawyer (inícios dos anos 80) com o Noddy (séc. XXI) e vejam ao que chegamos. É bom? É Mau? É natural que assim seja? Ficamos a perder ou a ganhar com o que vemos na caixa mágica?
A programação infantil actual, em todas as componentes, origens e evolução, bem analisada por investigadores competentes, talvez nos possa dar bons indicadores para proceder a uma caracterização séria sobre a situação do país em termos culturais. Não basta dizer que o país é atrasado, iletrado, etc. Vamos analisar o que nós viamos antigamente e o que as nossas crianças andam a ver nestes dias e talvez possamos ver o que se perdeu entretanto. E o que se ganhou. Pessoalmente duvido que se tenha ganho alguma coisa.
Aqui fica um medley de 15 minutos do nosso querido Swedish Chef, a cantar, a brincar com as suas comidinhas, a fugir de esparguetes assassinos e de lagostas pistoleiras, a encestar galinhas em cestos de basket, etc. Estavamos nos anos 80. Eu não digo «que saudades» dos anos 80 - digo apenas que há muito tempo que este país se perdeu. Ou se vendeu, não sei bem.
Adoro aquele sketch em que ele para fazer donuts atirava bolachas ao ar e dava tiros de caçadeira acertando mesmo no meio das bolachas. E também aquele episódio em que ele está a fazer uma mousse de chocolate e barra chocolate quente no focinho dum alce (alce=mousse), besuntando-o todo.
Enfim, tantos, tantos episódios embuídos dum humor inglês completamente nonsense tirado da mente genial de Jim Henson. A programação infantil, e as pessoas com mais de 30 anos sabem disso - desde Os Marretas, a Rua Sésamo, Era uma vez a vida, O Brinca Brincando, e até a programação infantil de leste de Vasco Granja, etc - nunca mais foi a mesma; deixou de haver quer uma componente pedagógica-didática ou mesmo lúdica na estética de criação de programas infantis, atendendo apenas a criação de personagens com uma lógica publicitária de mercado - veja-se o caso Noddy, Floribella, etc.
Se quiserem façam um simples exercício mental: Comparem o Tom Sawyer (inícios dos anos 80) com o Noddy (séc. XXI) e vejam ao que chegamos. É bom? É Mau? É natural que assim seja? Ficamos a perder ou a ganhar com o que vemos na caixa mágica?
A programação infantil actual, em todas as componentes, origens e evolução, bem analisada por investigadores competentes, talvez nos possa dar bons indicadores para proceder a uma caracterização séria sobre a situação do país em termos culturais. Não basta dizer que o país é atrasado, iletrado, etc. Vamos analisar o que nós viamos antigamente e o que as nossas crianças andam a ver nestes dias e talvez possamos ver o que se perdeu entretanto. E o que se ganhou. Pessoalmente duvido que se tenha ganho alguma coisa.
Aqui fica um medley de 15 minutos do nosso querido Swedish Chef, a cantar, a brincar com as suas comidinhas, a fugir de esparguetes assassinos e de lagostas pistoleiras, a encestar galinhas em cestos de basket, etc. Estavamos nos anos 80. Eu não digo «que saudades» dos anos 80 - digo apenas que há muito tempo que este país se perdeu. Ou se vendeu, não sei bem.
21.11.06
Bora ver isto com óculos 3D!!
Desde 2o de Outubro que re-estreou nos Estados Unidos, em poucas salas, o filme O Estranho Mundo de Jack (1993), mas em 3 Dimensões, recorrendo à tecnologia digital da Disney. Ouvi dizer que nos cinemas os especatadores usaram aqueles óculos especiais para visionar o filme, não daqueles feitos de cartão, ridículos, com uma janela verde e outra laranja, mas, sim, óculos novos, com design sofisticado ao estilo Ray Ban. Acho que o filme não vai estrear em Portugal, por isso só nos resta esperar pela edição em DVD.
Mais informações ver aqui.
Mais informações ver aqui.
19.11.06
É só quando me perco dentro de alguém que, então, me encontro a mim mesmo!
Something beautiful is happening inside for me,
Something sensual, it's full of fire and mystery,
I feel hypnotized,
I feel paralized,
I have found heaven [...]»
Depeche Mode - Only When I Lose Myself.
Something sensual, it's full of fire and mystery,
I feel hypnotized,
I feel paralized,
I have found heaven [...]»
Depeche Mode - Only When I Lose Myself.
17.11.06
Touch Me
Só há uma música de dança que me emociona muito: Touch Me, do excelente Rui da Silva. Mal foi editada em Inglaterra no ano 2000, a música atingiu logo o #1 do UK Charts, permanecendo nos tops mais 14 semanas. Nesse tempo, era a minha música da noite, de sair à noite, de viver à noite, de amar à noite. Touch Me hipnotizava-me pela batida «house» de fundo, pelo registo trance e, sobretudo, a sublimar este conjunto, pela vocalização poderosa de Cassandra Fox, que dava voz à alma da música.
Uma grande música.
Ouvir aqui.
Uma grande música.
Ouvir aqui.
15.11.06
A vida boa!
Mesmo aqueles que têm uma vida boa, não deixam de sentir, de tempos a tempos, uma tristeza insolúvel, uma tristeza que só a vida boa pode trazer, sem causa, sem nexo, sem dor de perda, sem objectivo. Não saber porque é que se está triste é a pior tristeza de todas, a tristeza que come o coração aos poucos, todos os dias.
9.11.06
White Stripes e Kate Moss: Música Pop Sensual
Elephant, dos White Stripes, é um dos álbuns mais felizes da música pop-rock mais recente. Não é só o hit-wonder "Seven Nation Army", tocado até à exaustão pelas rádios - é todo o álbum em sim que prima pela coerência e pela subtilidade inventiva da música. Queria deixar aqui o video-clip da faixa "I Just Don't Know What To Do With Myself", cuja música chama tanto à atenção como a Kate Moss, no videoclip, a dançar agarrada ao varão do Strip-Tease. Sensualidade musical e corporal: combinação perfeita.
Ouvir aqui - http://www.youtube.com/watch?v=a_k-Rmjdkjc
Ouvir aqui - http://www.youtube.com/watch?v=a_k-Rmjdkjc
4.11.06
31.10.06
Um presentinho para os fãs de Tim Burton: Vincent (1982)
Vincent, de Tim Burton (1982), com Jonathan Price, uma curta metragem animada com cerca de 6 minutos, que se pode ver nos Extras do DVD The Nightmare Before Christmas.
Ver aqui.
Isto é halloween!
The Nightmare Before Christmas, a obra genial de Tim Burton, para ver nesta noite das bruxas. Qual sair, qual quê! Esqueçam os bares da pinga e os arruaceiros dos doces e partidas.
O melhor, para contrariar, é ficar em casa, no sofá, a ver esta obra prima, e depois voltar a ver, e depois só ver as músicas de que se gostou mais, e depois ver as outras também, e depois ver o final pela vigésima vez, e depois ver só o início para ter a certeza que decoramos a letra das canções. E depois, sim, deitar na caminha e sonhar com um mundo diferente do nosso, que só existe na nossa imaginação, nos nossos sonhos cheios de criaturas fantásticas, aventuras extremas, amores sublimes. E depois adormecer, devagarinho, com o coração sossegado.
A lindíssima cena final do filme. Inesquecível.
Para o Pedro Azevedo, Joana e Tiago, Tozé e Rui Pedro.
O melhor, para contrariar, é ficar em casa, no sofá, a ver esta obra prima, e depois voltar a ver, e depois só ver as músicas de que se gostou mais, e depois ver as outras também, e depois ver o final pela vigésima vez, e depois ver só o início para ter a certeza que decoramos a letra das canções. E depois, sim, deitar na caminha e sonhar com um mundo diferente do nosso, que só existe na nossa imaginação, nos nossos sonhos cheios de criaturas fantásticas, aventuras extremas, amores sublimes. E depois adormecer, devagarinho, com o coração sossegado.
A lindíssima cena final do filme. Inesquecível.
Para o Pedro Azevedo, Joana e Tiago, Tozé e Rui Pedro.
Livros perdidos: O Bosco Deleitoso Solitário (séc. XIV-XV, autor desconhecido)
«Mas nom é o ermo ao solitário escola de reitórica pera bem falar, mas escola de vida pera bem viver; nem teemos mentes nem entendemos em a vãa grória da língua, mas em haver folgança frme da mente e da alma. Ca me nom esquece aquelo que disse Séneca filósofo: «Leixa todos os embargos e vaga pera haveres boa mente.» E nom acalça nengüu a boa mente, se for ocupado em negócios. E eu nom contendo nem digo que o ermo dá ao homem boa mente e boa vontade, mas digo e contendo que a vida apartada em o ermo conserva e guarda e ajuda muito a mente e a vontade boa.»
Booco Deleytoso Solitario, por Hermão de Campos, Capítulo XXX: Defesa da vida solitária,(impresso)1515.
Uma das obras mais marcantes da espiritualidade portuguesa medieval, de autor desconhecido, provavelmente um monge, escrito no Mosteiro de Alcobaça entre os finais do Séc. XIV e inícios do Séc. XV e impresso em Lisboa no ano de 1515. Cerca de setenta capítulos transcrevem a tradução da obra de Petrarca De Vita Solitaria. Os últimos quarenta e seis capítulos são originais.
Uma obra que realça a a eremitagem, o retiro, o «ermo» do bosco (bosque) como lugar solitário dedicado à união mística com Deus através duma vida de contemplação em detrimento da vida activa.
500 anos depois, cá estamos nós, os demónios continuam a ser os mesmos, bem como a necessidade de redenção do pecado. Aqui, no Bosque tranquilo e deleitoso, não há luta entre o bem e o mal: trata-se sobretudo de evolução espiritual e comunhão divina, onde há vários degraus a serem percorridos sendo o último patamar o da vida contemplativa, mais longe deste mundo e mais perto de Deus.
Booco Deleytoso Solitario, por Hermão de Campos, Capítulo XXX: Defesa da vida solitária,(impresso)1515.
Uma das obras mais marcantes da espiritualidade portuguesa medieval, de autor desconhecido, provavelmente um monge, escrito no Mosteiro de Alcobaça entre os finais do Séc. XIV e inícios do Séc. XV e impresso em Lisboa no ano de 1515. Cerca de setenta capítulos transcrevem a tradução da obra de Petrarca De Vita Solitaria. Os últimos quarenta e seis capítulos são originais.
Uma obra que realça a a eremitagem, o retiro, o «ermo» do bosco (bosque) como lugar solitário dedicado à união mística com Deus através duma vida de contemplação em detrimento da vida activa.
500 anos depois, cá estamos nós, os demónios continuam a ser os mesmos, bem como a necessidade de redenção do pecado. Aqui, no Bosque tranquilo e deleitoso, não há luta entre o bem e o mal: trata-se sobretudo de evolução espiritual e comunhão divina, onde há vários degraus a serem percorridos sendo o último patamar o da vida contemplativa, mais longe deste mundo e mais perto de Deus.
30.10.06
27.10.06
Leituras: Lobo Antunes
Lobo Antunes é um génio. Literário. Lobo Antunes é grande. É sério e leva a sério tudo o que faz e tudo o que diz. Lobo Antunes não ri muito, é certo, e quando ri é só para fazer ginástica aos cantos da boca. Se calhar Lobo Antunes não tem tempo para rir porque é um génio e os génios dedicam-se a actividades geniais contrárias ao riso tais como escrever, sobretudo escrever de forma genial sobre coisas geniais. Lobo Antunes corta as unhas de forma genial, faz a barba de forma genial e tira a remela dos olhos de forma genial. Todos os seus movimentos são geniais e a forma como ele pega na caneta para escrever - admitamos - também é genial. Aliás, a forma como ele se senta para escrever durante 10 horas a fio também é genial em si mesma, conseguindo até a proeza de não entortar a coluna evitando dores de pescoço.
A forma como fala é genial, porque consegue falar quase sem mover um único músculo da cara, atributo que é geralmente atribuído aos génios literários.
Nas entrevistas é duro e difícil de lidar com ele, porque é duro e difícel de lidar com génios, onde as palavras são arrancadas do fundo do pensamento porque um génio tem de ter pensamentos profundos, objecto de horas e horas de meditação e de leitura, com o intuito heróico de poder dizer palavras profundas e sobretudo citar autores desconhecidos.
Aliás, citar autores desconhecidos também é de génio, dá sempre um ar de erudição que fica sempre bem a todo o génio que se preze. Um génio tem que se portar como tal e dar a entender a toda a hora a razão essencial da sua genialidade.
Um génio, tal como nós, também dá os seus arrotos e solta os seus gazes depois de comer uma chispalhada bem picante, só que dá-lhes imediatemente um sentido literário que não está ao alcance da plebe.
Um «peido» não é só uma simples emissão dum gás mal-cheiroso, logo tem que ser objecto de uma meditação filosófica existencialista, assente numa lógica aristotélica de causa-efeito.
Um génio, por definição, é intocável, assentando vitaliciamente as nádegas no cadeirão de mármore do Olimpo. Não se pode falar mal dum génio, porque senão passa-se logo por burro ou, como se diz agora, iletrado. Não. Toda a gente que lê Lobo Antunes é e deve ser vista como genial, pois a leitura das suas obras emite um bálsamo de genialidade que abençoa e redime todo o fraco de espírito literário. Um génio literário limita-se a fazer aquilo que o faz ser genial: escrever livros. Um génio não vê televisão porque quem vê televisão é o povo analfabeto e os génios não querem ser confundidos com o povo (aliás, para quem publicam e de quem querem ganhar dinheiro).
Todos os dias, sem cessar, sem respirar, evitando ou adiando idas à casa de banho, ou remover um macaco do nariz, um génio deve dedicar-se à sua genialidade, um convívio autista e íntimo consigo mesmo e assumir uma pose genial, sem falhas, sem deixar cair a máscara.
Um povo é genial porque ler António Lobo Antunes é genial e porque Lobo Antunes é um génio.
Só um génio lê livros geniais escritos por génios. Não acham? Vá, lá, deixem esse mau génio....
A forma como fala é genial, porque consegue falar quase sem mover um único músculo da cara, atributo que é geralmente atribuído aos génios literários.
Nas entrevistas é duro e difícil de lidar com ele, porque é duro e difícel de lidar com génios, onde as palavras são arrancadas do fundo do pensamento porque um génio tem de ter pensamentos profundos, objecto de horas e horas de meditação e de leitura, com o intuito heróico de poder dizer palavras profundas e sobretudo citar autores desconhecidos.
Aliás, citar autores desconhecidos também é de génio, dá sempre um ar de erudição que fica sempre bem a todo o génio que se preze. Um génio tem que se portar como tal e dar a entender a toda a hora a razão essencial da sua genialidade.
Um génio, tal como nós, também dá os seus arrotos e solta os seus gazes depois de comer uma chispalhada bem picante, só que dá-lhes imediatemente um sentido literário que não está ao alcance da plebe.
Um «peido» não é só uma simples emissão dum gás mal-cheiroso, logo tem que ser objecto de uma meditação filosófica existencialista, assente numa lógica aristotélica de causa-efeito.
Um génio, por definição, é intocável, assentando vitaliciamente as nádegas no cadeirão de mármore do Olimpo. Não se pode falar mal dum génio, porque senão passa-se logo por burro ou, como se diz agora, iletrado. Não. Toda a gente que lê Lobo Antunes é e deve ser vista como genial, pois a leitura das suas obras emite um bálsamo de genialidade que abençoa e redime todo o fraco de espírito literário. Um génio literário limita-se a fazer aquilo que o faz ser genial: escrever livros. Um génio não vê televisão porque quem vê televisão é o povo analfabeto e os génios não querem ser confundidos com o povo (aliás, para quem publicam e de quem querem ganhar dinheiro).
Todos os dias, sem cessar, sem respirar, evitando ou adiando idas à casa de banho, ou remover um macaco do nariz, um génio deve dedicar-se à sua genialidade, um convívio autista e íntimo consigo mesmo e assumir uma pose genial, sem falhas, sem deixar cair a máscara.
Um povo é genial porque ler António Lobo Antunes é genial e porque Lobo Antunes é um génio.
Só um génio lê livros geniais escritos por génios. Não acham? Vá, lá, deixem esse mau génio....
Waterfall: Mas ca ganda música!
Ouvir Waterfall dos Stone Roses faz-nos regressar aos anos 80, à ascensão da pop britânica, a Madchester, ao mundo dos Happy Mondays, dos The Smiths e, claro, dos Stone Roses de Ian Brown com este Waterfall, um grande som mesmo. Ouvir aqui.
23.10.06
Servos inúteis, sim, nós!
Ao contrário do que toda a gente pensa, a sensação de dever cumprido não é assim tão boa como isso. Ter um «dever», trabalhar, etc, e «cumpri-lo», apenas isso, faz de nós todos, mortais comuns, como está escrito na Bíblia, «servos inúteis». E o que é um servo inútil? Diz lá que um servo inútil é aquele indivíduo que faz somente aquilo que lhe é pedido pelo seu senhor. Ao fazermos somente o que nos é pedido, somos inúteis, porque qualquer um faz isso. Fazer mais, ir mais longe, ir além das expectativas, faría de nós, talvez, «servos úteis». Se o país anda deprimido talvez esta seja uma boa pista para reflectirmos sobre a nossa situação.
A demanda é pesada e custosa, mas podemos começar a perguntar o seguinte: "Qualquer pessoa, bem ou mal, é capaz de fazer o meu trabalho? Porque é que eu não digo o que realmente penso? Porque é que não expresso o que realmente sinto? A quem é que eu quero ser mesmo «útil»? Eu faço o que faço porque preciso ou porque dizem que é o melhor para mim?"
Bem, são boas perguntas e que provavelmente nos vão pôr a cabeça a dar uma volta de 360 graus e voltar ao príncipio em que, se calhar, nada deste texto tem interesse.
Mas o problema é este: à medida que se vai envelhecendo, vai-se compreendendo e aceitando, talvez como regra natural, a inutilidade das pequenas coisas que reduzimos à dimensão da nossa patética existência e o melhor a que se pode aspirar é a ser-se um bom servo inútil neste circo de vaidades.
A demanda é pesada e custosa, mas podemos começar a perguntar o seguinte: "Qualquer pessoa, bem ou mal, é capaz de fazer o meu trabalho? Porque é que eu não digo o que realmente penso? Porque é que não expresso o que realmente sinto? A quem é que eu quero ser mesmo «útil»? Eu faço o que faço porque preciso ou porque dizem que é o melhor para mim?"
Bem, são boas perguntas e que provavelmente nos vão pôr a cabeça a dar uma volta de 360 graus e voltar ao príncipio em que, se calhar, nada deste texto tem interesse.
Mas o problema é este: à medida que se vai envelhecendo, vai-se compreendendo e aceitando, talvez como regra natural, a inutilidade das pequenas coisas que reduzimos à dimensão da nossa patética existência e o melhor a que se pode aspirar é a ser-se um bom servo inútil neste circo de vaidades.
22.10.06
Signos e ascendentes: Os signos que se fodam e os ascendentes, à falta de melhor, também.
É natural uma gaja perguntar-nos o signo. Até aqui tudo bem, os signos são coisas de gajas e perguntar sobre eles ao comum dos mortais também é uma coisa de gaja. Mas assisti a um fenómeno novo (podem preparar os sacos de enjoo) que foi perguntarem, várias vezes (arranjem mais sacos ou encomendem uma palete) qual (preparem-se, blearghhhhhh) era o meu ascendente. O meu ascendente??? Uma gaja perguntar-nos o nosso ascendente não é lá muito normal pois não? É tão estranho como ver o Chewbacca da Guerra das Estrelas num barbeiro. Há qualquer coisa que neste país começa a não "bater" lá muito bem. Sei lá qual é o meu ascendente, nem sei o que é um ascendente. Sei o que é um ascensor e sei o que é ascender, tipo: "E Elias ascendeu aos céus num carro de fogo." Agora ascendente é o meu pai e o meu avô.
Sempre que uma rapariga me pergunta o signo, antes de responder «sou do signo leão», penso sempre: "Oh que caralho, ó Maria Ivone, vai-me à loja e traz-me o troco!" Não satisfeitas com a resposta, visto que ser do signo leão é como sofrer de escorbuto, perguntaram-me qual era então o meu ascendente, numa tentativa de tentar descobrir alguma coisa que se aproveite em mim ou para me salvar das garras medonhas do dito rei da selva.
Educadamente, e depois de vomitar 3 vezes seguidas para sacos de enjoo que já ando a comprar há mais de dez anos para o efeito, lá tentei articular uma resposta satisfatória: "Sei lá, ó caralho, não percebo nada dessa merda..." Essa. Merda. Uau, um palavrão feio que faz de mim um menino feio. Ai que grande tau-tau. A rapariga corou; eu também, ainda mais do que o costume. Ela de vergonha; eu de raiva e frustração devido ao alto grau de cromice e saloice da gaja. Resposta final dela: "Oh, vê-se mesmo que és Leão..." Eu (em vez de responder o que qualquer mortal com dois dedos de testa respondería, e que é: "Quero que essa merda se foda") disse, no estilo humorístico que me caracteriza:"Ai é, como é que sabes, já te mostrei a minha juba?" Ela fingiu que não percebeu. Eu fingi que não teve assim tanta graça. Mas tem mais graça que os signos. Os signos não são nada, nem aparecem no B.I. Os signos tem tanta importância como abrir uma loja de biquinis no pólo norte.
Só digo uma coisa às próximas raparigas com quem vou sair (espero eu) - Vou comprar uma caçadeira, registá-la e colocá-la bem à vista no tablier do meu carro, ao estilo caçador de javalis. Ao mínimo deslize nessa treta dos signos, sai bala pelo vosso «ascendente» acima.... No caso de possuírem um corpo , sei lá, não peço muito, do tipo da Soraia Chaves, quero dizer que estou disposto a negociar tréguas que poderão envolver remoção total de roupas e conversações na horizontal. Sempre tem mais piada que os signos...
Sempre que uma rapariga me pergunta o signo, antes de responder «sou do signo leão», penso sempre: "Oh que caralho, ó Maria Ivone, vai-me à loja e traz-me o troco!" Não satisfeitas com a resposta, visto que ser do signo leão é como sofrer de escorbuto, perguntaram-me qual era então o meu ascendente, numa tentativa de tentar descobrir alguma coisa que se aproveite em mim ou para me salvar das garras medonhas do dito rei da selva.
Educadamente, e depois de vomitar 3 vezes seguidas para sacos de enjoo que já ando a comprar há mais de dez anos para o efeito, lá tentei articular uma resposta satisfatória: "Sei lá, ó caralho, não percebo nada dessa merda..." Essa. Merda. Uau, um palavrão feio que faz de mim um menino feio. Ai que grande tau-tau. A rapariga corou; eu também, ainda mais do que o costume. Ela de vergonha; eu de raiva e frustração devido ao alto grau de cromice e saloice da gaja. Resposta final dela: "Oh, vê-se mesmo que és Leão..." Eu (em vez de responder o que qualquer mortal com dois dedos de testa respondería, e que é: "Quero que essa merda se foda") disse, no estilo humorístico que me caracteriza:"Ai é, como é que sabes, já te mostrei a minha juba?" Ela fingiu que não percebeu. Eu fingi que não teve assim tanta graça. Mas tem mais graça que os signos. Os signos não são nada, nem aparecem no B.I. Os signos tem tanta importância como abrir uma loja de biquinis no pólo norte.
Só digo uma coisa às próximas raparigas com quem vou sair (espero eu) - Vou comprar uma caçadeira, registá-la e colocá-la bem à vista no tablier do meu carro, ao estilo caçador de javalis. Ao mínimo deslize nessa treta dos signos, sai bala pelo vosso «ascendente» acima.... No caso de possuírem um corpo , sei lá, não peço muito, do tipo da Soraia Chaves, quero dizer que estou disposto a negociar tréguas que poderão envolver remoção total de roupas e conversações na horizontal. Sempre tem mais piada que os signos...
19.10.06
As lorelei de João Cutileiro (livro esgotadíssimo, arre que não há nenhuma editora que re-edite isto)
Lorelei (I)
Lorelei vem de uma água escura! Há uma luz de navios caídos e está presa aos cabelos dela, noite e dia!
Noite e dia tem a pele molhada e o corpo em sobressalto. Não consegue parar a alma, sempre em mudança. Põe-se de pé no alto de uma pedra, a chorar. Esquece, grita, chama, adormece.
Lorelei levanta-se. Levanta-se outra vez.
Nos olhos tem o azul sujo de um mar cansado de céu. Queixa-se, espreguiça-se, lava-se em lágrimas e floresce.
Acorda.
Quando Lorelei acorda, o mundo tem ordens para não olhar. É uma sereia. Não se vê. Não se percebe. É magia? É uma magia que ainda não cresceu. É de pele? É de pedra? É de água. Não se percebe. Lorelei não se percebe.
É uma sereia. Uma sereia é um problema que não se resolve facilmente, que gosta de grutas. Não gosta de vir à tona de água. Tem medo das alturas. Não gosta da sensação do ar nos olhos. Não suporta a claridade. Sem a ajuda da água, todas as cores acabam por esbranquiçar.
Sempre que está em terra, a tratar das coisas que as sereias tratam, tentando aliciar o primeiro marinheiro do dia, apetece-lhe desistir e mergulhar, abrir os olhos e olhar.
Não gosta nada quando os marinheiros não vêm ou não correspondem ou só aparecem muito tarde. Não gosta nada de não se despachar. Mas gosta de estar deitada de costas no chão do rio, num dia de calor, a adivinhar quantos azuis tem o céu.
A água funda é mais fresca no verão e ela gosta de estar horas sem se mexer, a sentir o rio inteiro a passar por cima dela. Lá em cima, no barulho branco do outro mundo, quase se vêem os pássaros inteligentes a nadar na ventania.Não gosta de estar cá em cima.
Nada. A escuridão do rio é a única coisa capaz de a sossegar.
Lorelei (II)
Lorelei é a menina curva da minha mão, a linha recta do meu olhar. Deita o cabelo à pedra fria e escuta. As árvores cantam o que o rio lhes diz e o rio corre, porque o mar chama. E o mar é como a lua mandar. Quem manda na lua, ninguém sabe. Sabes?
É por ela que eu hei-de apaixonar-me. Esquece. Escuta. Há qualquer coisa no coração que te quer falar. Entorna o cabelo para um poço de sombra. Espalha-o como se estivesse a nadar. Vê-se na água escura de onde vem, vê-se feliz, de corpo inteiro, em todas as posições, com todas as idades, menina mais uma vez, sorrindo na água-mãe. Esperava o vento que vinha.
Tinha tudo o que queria. Diziam-lhe para descer; ela descia. Esperava uma verdade que não vinha — as tempestades, a perdição, os navios — com o queixo sobre os joelhos, respeitando o ar da pele, sozinha como o dia. Não sabe o que tem.
O céu corre-lhe por cima da cabeça, parece tinta. Não quer saber o que se passa. Dança, quer dançar, dança toda a noite. As estrelas param e a manhã começa. Dança como se fosse proibido, dança como se fosse de verdade, até descer aquela alma dentro de mim, tirando-me o sono, tirando-me a certeza, tirando-me a paz.
O amor não fala a quem o escuta. A sereia não se deita e eu não durmo. A sereia não se deita à água e o rio está inquieto, remexe-se toda a noite, perdendo o fio das horas, enquanto ela dança, dança ao som do amanhecer.
Miguel Esteves Cardoso
Fonte: Lorelei / esculturas de João Cutileiro ; fotografias de Gérard Castello Lopes ; textos Miguel Esteves Cardoso. Porto : Porto Editora, [1989]
Fotos e restantes testos (1 a 9), para quem quiser ler: Sons da escrita 010, 011, 012.
Nota: Um excelente livro, duma beleza e estética singulares, editado na altura em capa dura e que simplesmente não consigo encontrar à venda em lado nenhum. Fica o apelo às editoras portuguesas.
Lorelei vem de uma água escura! Há uma luz de navios caídos e está presa aos cabelos dela, noite e dia!
Noite e dia tem a pele molhada e o corpo em sobressalto. Não consegue parar a alma, sempre em mudança. Põe-se de pé no alto de uma pedra, a chorar. Esquece, grita, chama, adormece.
Lorelei levanta-se. Levanta-se outra vez.
Nos olhos tem o azul sujo de um mar cansado de céu. Queixa-se, espreguiça-se, lava-se em lágrimas e floresce.
Acorda.
Quando Lorelei acorda, o mundo tem ordens para não olhar. É uma sereia. Não se vê. Não se percebe. É magia? É uma magia que ainda não cresceu. É de pele? É de pedra? É de água. Não se percebe. Lorelei não se percebe.
É uma sereia. Uma sereia é um problema que não se resolve facilmente, que gosta de grutas. Não gosta de vir à tona de água. Tem medo das alturas. Não gosta da sensação do ar nos olhos. Não suporta a claridade. Sem a ajuda da água, todas as cores acabam por esbranquiçar.
Sempre que está em terra, a tratar das coisas que as sereias tratam, tentando aliciar o primeiro marinheiro do dia, apetece-lhe desistir e mergulhar, abrir os olhos e olhar.
Não gosta nada quando os marinheiros não vêm ou não correspondem ou só aparecem muito tarde. Não gosta nada de não se despachar. Mas gosta de estar deitada de costas no chão do rio, num dia de calor, a adivinhar quantos azuis tem o céu.
A água funda é mais fresca no verão e ela gosta de estar horas sem se mexer, a sentir o rio inteiro a passar por cima dela. Lá em cima, no barulho branco do outro mundo, quase se vêem os pássaros inteligentes a nadar na ventania.Não gosta de estar cá em cima.
Nada. A escuridão do rio é a única coisa capaz de a sossegar.
Lorelei (II)
Lorelei é a menina curva da minha mão, a linha recta do meu olhar. Deita o cabelo à pedra fria e escuta. As árvores cantam o que o rio lhes diz e o rio corre, porque o mar chama. E o mar é como a lua mandar. Quem manda na lua, ninguém sabe. Sabes?
É por ela que eu hei-de apaixonar-me. Esquece. Escuta. Há qualquer coisa no coração que te quer falar. Entorna o cabelo para um poço de sombra. Espalha-o como se estivesse a nadar. Vê-se na água escura de onde vem, vê-se feliz, de corpo inteiro, em todas as posições, com todas as idades, menina mais uma vez, sorrindo na água-mãe. Esperava o vento que vinha.
Tinha tudo o que queria. Diziam-lhe para descer; ela descia. Esperava uma verdade que não vinha — as tempestades, a perdição, os navios — com o queixo sobre os joelhos, respeitando o ar da pele, sozinha como o dia. Não sabe o que tem.
O céu corre-lhe por cima da cabeça, parece tinta. Não quer saber o que se passa. Dança, quer dançar, dança toda a noite. As estrelas param e a manhã começa. Dança como se fosse proibido, dança como se fosse de verdade, até descer aquela alma dentro de mim, tirando-me o sono, tirando-me a certeza, tirando-me a paz.
O amor não fala a quem o escuta. A sereia não se deita e eu não durmo. A sereia não se deita à água e o rio está inquieto, remexe-se toda a noite, perdendo o fio das horas, enquanto ela dança, dança ao som do amanhecer.
Miguel Esteves Cardoso
Fonte: Lorelei / esculturas de João Cutileiro ; fotografias de Gérard Castello Lopes ; textos Miguel Esteves Cardoso. Porto : Porto Editora, [1989]
Fotos e restantes testos (1 a 9), para quem quiser ler: Sons da escrita 010, 011, 012.
Nota: Um excelente livro, duma beleza e estética singulares, editado na altura em capa dura e que simplesmente não consigo encontrar à venda em lado nenhum. Fica o apelo às editoras portuguesas.
18.10.06
Ambiguidades (alguns aforismos, meditações sobre homens e mulheres e não necessariamente por essa ordem )
Fim de férias e início do trabalho. Fim duma coisa, onde nada acontece, e início de outra, onde nada do que acontece tem, de facto, importância.
Quando uma relação amorosa acaba, começa logo outra, mais intensa e apaixonante, entre a esperança e o tédio dos dias e o vazio das noites.
As mulheres apaixonam-se, geralmente, pelos homens que têm o condão mágico de magoá-las sempre no sítio certo. Os homens só se apaixonam por mulheres que têm o condão mágico de não os aborrecer. Depois de casados trocam de papéis.
É fácil saber quando uma mulher está triste: não consegue esconder. E também é fácil saber quando um homem está triste: não consegue disfarçar.
A mulher infeliz ri para não chorar. O mulher feliz ri depois de chorar.
Andamos todos atrás do mesmo, homens e mulheres, diz um colega meu de trabalho. Eu não podia concordar mais. Apenas um senão: coitado do homem que encontra aquilo que quer e coitada da mulher que tem aquilo que merece.
Um homem começa a namorar porque encontrou uma mulher de jeito. A mulher começa a namorar porque não encontra mais ninguém de jeito. O amor é um doce engano.
As mulheres podem dizer-nos o que quiserem que, no fundo, não interessa: uma mulher só gosta de nós se nós lhes dermos protecção e filhos.
Há 50% de divórcios em Portugal. Facto. A culpa é do homem? Facto. E das mulheres, não é? É.
A mulher tornou-se mais independente, mais culta, começou a rapar o buço e já não está para levar com o cinto na testa, como a mãe dela e a avó dela, por não fazer a janta a horas. De acordo. As mulheres já não estão para lavar a roupa do marido a cheirar a pito adúltero. Certo. E os homens também não estão para comprar pizzas todos os dias só porque elas são licenciadas em direito e não sabem fazer uma simples massa de bacalhau ou descascar uma cebola. Certo. Tudo certo. Todos temos culpas e o pêndulo de focault balança friamente sobre as nossas testas. Mas a razão principal para tanto divórcio é esta: O Tédio. Como diz um amigo meu: "pá, a gente casa-se é para foder a horas certas...»
Vamos todos meditar nisto.
Quando uma relação amorosa acaba, começa logo outra, mais intensa e apaixonante, entre a esperança e o tédio dos dias e o vazio das noites.
As mulheres apaixonam-se, geralmente, pelos homens que têm o condão mágico de magoá-las sempre no sítio certo. Os homens só se apaixonam por mulheres que têm o condão mágico de não os aborrecer. Depois de casados trocam de papéis.
É fácil saber quando uma mulher está triste: não consegue esconder. E também é fácil saber quando um homem está triste: não consegue disfarçar.
A mulher infeliz ri para não chorar. O mulher feliz ri depois de chorar.
Andamos todos atrás do mesmo, homens e mulheres, diz um colega meu de trabalho. Eu não podia concordar mais. Apenas um senão: coitado do homem que encontra aquilo que quer e coitada da mulher que tem aquilo que merece.
Um homem começa a namorar porque encontrou uma mulher de jeito. A mulher começa a namorar porque não encontra mais ninguém de jeito. O amor é um doce engano.
As mulheres podem dizer-nos o que quiserem que, no fundo, não interessa: uma mulher só gosta de nós se nós lhes dermos protecção e filhos.
Há 50% de divórcios em Portugal. Facto. A culpa é do homem? Facto. E das mulheres, não é? É.
A mulher tornou-se mais independente, mais culta, começou a rapar o buço e já não está para levar com o cinto na testa, como a mãe dela e a avó dela, por não fazer a janta a horas. De acordo. As mulheres já não estão para lavar a roupa do marido a cheirar a pito adúltero. Certo. E os homens também não estão para comprar pizzas todos os dias só porque elas são licenciadas em direito e não sabem fazer uma simples massa de bacalhau ou descascar uma cebola. Certo. Tudo certo. Todos temos culpas e o pêndulo de focault balança friamente sobre as nossas testas. Mas a razão principal para tanto divórcio é esta: O Tédio. Como diz um amigo meu: "pá, a gente casa-se é para foder a horas certas...»
Vamos todos meditar nisto.
16.10.06
Fêveras e Entrecosto na brasa é com o Nuno!!
3 vivas (bem bebidos) para a Trupe da Caipirinha!
No aniversário do Jorge, da esquerda para a direita, Luzia, Jorge, Nelson, Marta e Nuno, fazem um brinde de capirinha em punho: a deliciosa cachaça brasileira.
A Caipirinha. Copo de vidro, uma quantidade generosa de limas medidas, rigorosamente, em «bués de limas», bem esmagadinhas contra o delícioso açúcar amarelo, numa orgia pecaminosa de contraste de sabores. Tudo bem aconchegadinho no fundo do copo, esperando ansiosamente pela absolvição redentora da cachaça. No Brasil é conhecida por "Água que passarinho-não-bebe", "engasga-gato,"lágrima-de-virgem", "levanta-velho", "urina de santo".
Aqui em Portugal é apenas caipirinha, ou caipirosca, se misturarmos vodka. Adoro.
Amo.
Quero mais.
Caipira: um pouco de Brasil aqui em Portugal.
4.10.06
A ternura dos 30 (que não é muita...) - Parabéns ao D.J. Tony e ao Jorge M.C.
Quero desejar Parabéns ao Tony que fez 30 anos, no dia 3 deste mês e também ao Jorge que também vai fazer 30 anos na sexta-feira, dia 6. Eu, que sou apenas um chavaleco de 29 anitos, uma criança comparada a estes senhores casadoiros, enrugados e barrigudos, queria desejar a este par de "cotas-trintões", muitas felicidades, que a vida lhes traga, para além da botija de água quente, do xaile e do cházinho, tudo o que desejarem, além de desconto para a 3ª idade nas excursões a Compustela e 20% de redução de preço nas caixas de viagra (vocês sabem do que estou a falar, não disfarcem nem mintam às vossas mulheres dizendo que são as novas pintarolas azuis!), um mundo de coisas boas e práticas, sei lá, assim de repente, ora deixa cá ver, Polident para a placa dentária, fraldas anatómicas, etc.
Ah!, já mencionei que vocês estão a ficar cotas? Velhos? Trintões? Carcaças? Carcamanos? Figos? Chantras?
30 anos! Sim senhor! Já começaram a ver telenovelas? A comprar cds do José Cid? Vocês já devem estar naquela idade em que acham mesmo «piada» ao teatro de revista e não perdem um programa do Camilo de Oliveira, nem um cd da Simone de Oliveira! Confessem lá. Vocês ainda tentam disfarçar e dão uma miradela de soslaio aos canais porno da tv-cabo, mas o que vocês gostam mesmo, mesmo, mesmo de ver é aquele programa da Fátima Lopes na Sic, antes do almoço, é ou não é verdade? Vá lá, confessem, venha de lá essa catarse - sim, já tou a ver baba e ranho a escorrer para o teclado, confessem lá: Vocês gostam mesmo dos Diapasão!
Pronto, já passou, estão a ver, não custou nada. Agora vão lá soprar as velas e peçam um desejo. Uma sugestão? Peçam uma placa dentária mesmo forte ou uma pomadinha para as hemorróidas. Nunca se sabe..
Ah!, já mencionei que vocês estão a ficar cotas? Velhos? Trintões? Carcaças? Carcamanos? Figos? Chantras?
30 anos! Sim senhor! Já começaram a ver telenovelas? A comprar cds do José Cid? Vocês já devem estar naquela idade em que acham mesmo «piada» ao teatro de revista e não perdem um programa do Camilo de Oliveira, nem um cd da Simone de Oliveira! Confessem lá. Vocês ainda tentam disfarçar e dão uma miradela de soslaio aos canais porno da tv-cabo, mas o que vocês gostam mesmo, mesmo, mesmo de ver é aquele programa da Fátima Lopes na Sic, antes do almoço, é ou não é verdade? Vá lá, confessem, venha de lá essa catarse - sim, já tou a ver baba e ranho a escorrer para o teclado, confessem lá: Vocês gostam mesmo dos Diapasão!
Pronto, já passou, estão a ver, não custou nada. Agora vão lá soprar as velas e peçam um desejo. Uma sugestão? Peçam uma placa dentária mesmo forte ou uma pomadinha para as hemorróidas. Nunca se sabe..
30.9.06
Férias!
E agora pessoal, vou aproveitar para tirar uns tempos e gozar umas férias bem merecidas e dar descanso a este blog. Voltaremos assim que se considerar necessário.
28.9.06
Leituras: O Sul De Miguel Sousa Tavares
Gosto mesmo muito de literatura de viagens. Júlio Verne, claro, é o meu preferido, mas também tenho alguma bibliografia de viagens diversificada, desde diários de Cristóvão Colombo, Daniel Dafoe, etc. Uma viagem, seja ela de que tipo fôr, quando bem contada e superiormente escrita, consegue ser melhor do que a viagem em si e até transcendê-la.
O que é uma linha de combóio, um autocarro ou um barco comparado à descrição literária dos mesmos? O que é a paisagem em si comparada ao que so pode escrever e sentir por causa do que se escreve dela?
A literatura de viagens é um género literário fascinante, capaz de fazer o próprio leitor viajar, sonhar, imaginar, sentir, etc.
Gosto de Sul: Viagens de Miguel Sousa Tavares. Por dois motivos. Não só o livro é fascinante e está bem escrito como também só gosto de viajar para o sul. Sempre para Sul.
Quando era pequenito e o meu pai dizía-nos que íamos passear para o norte, sei lá, para o Minho, Bragança, etc, só me apetecia vomitar. Detesto o Marão. A viagem enjoava-me e dava-me náuseas. Só queria ir para casa. Odeio quando a paisagem é sempre a mesma durante 10 kms. Odeio tudo o que é pinheiros, campos de milho e de girassóis - para mim, só com uma paulada na cabeça dada na portagem em Lisboa, para ir a dormitar sossegadinho até Lagos, é que consigo atravessar o Alentejo de carro) -, em suma: odeio o campo, pronto. Detesto montanhas, detesto piqueniques de todo o tipo, seja à sombrinha, seja num pinhal. Gosto do norte no que refere à gastronomia, por ex. A paisagem é bonita, claro, mas para aí durante 10m. O Gerês é maravilhoso mas para passar um fim de semana. No entanto, defendo que o Norte, o Alentejo e os Açores devem permanecer como estão, intocáveis pelo homem, no seu estado natural, durante o tempo que for possível. O Sul, sim, podemos «abandalhar» à nossa vontade, poluír, semear auto-estradas, prédios e estádios de futebol - enfim: estragar! O norte devería estar como está durante mais 5 séculos. Sería o ideal. O sul deve melhorar, claro. O norte devia ser a nossa amazónia privada, verdinha, impoluta, cheia de bichos selvagens ou em vias de extinção e rios limpos. Só se devia viajar para norte de barco e, para certas zonas, de helicóptero ou cair de pára-quedas. Em Portugal, o Sul devía ser a casa e o Norte o quintal. O Sul a fachada e o Norte as traseiras.
Só gosto do sul, de ir a para sul, de viajar para sul. Só gosto de civilização, cidades, barulho. As casinhas no norte, isoladas e com pastagens a abarrotar de vacas e cabras não tem tanto encanto, para mim, como dormir num hotel e comprar uns bifes do lombo num hipermercado. Gosto de pessoas. Gostar de cidades é gostar de pessoas.
Para mim o norte é rural, agrícola e aldeão; o sul é urbano, industrial, cosmopolita. Nós, Portugueses, nos últimos 500 anos sempre quisémos ir para sul, descobrir, sair, fugir, e morar. Desde D. Afonso Henriques que gostámos de ir para o Algarve em Agosto. Montados nas carroças, nas liteiras e nos burricos lá íamos, todos lampeiros e de marmita às costas, gozar 15 dias de férias a Albufeira.
Por isso adoro Sul Viagens de M.S.T. Gosto da palavra Sul. O norte tem o seu encanto cultural, paisagístico, filósófico e até poético, mas é para sul que vou sempre que posso e que sempre quis ir. Sul sempre foi o nosso objectivo, a nossa meta, o nosso karma. Em Portugal, quando viajo, a minha bússola aponta sempre o «sul magnético».
O norte pode ser um paraíso.
O sul é outra coisa melhor.
"Este é um livro de viagens, um livro de alguém que, como nos sonhos de infância, teve a sorte de partir tantas vezes com pouco mais que um saco de viagem e uma máquina de filmar ou de fotografar. (...) Nem sempre viajei
para sul, mas nada vi de tão extraordinário como o sul. O Sul é uma porta de avião que se abre e um cheiro inebriante a verde que nos suga, o calor, a humidade colada à pele, os risos das pessoas, o ruído, a confusão de um terminal de bagagens, um excesso de tudo que nos engole e arrasta como uma vaga gigantesca. Apetece fechar os olhos, quebrar os gestos e deixar-se ir. Mas é justamente neste caos que eu procuro a lucidez do contador de histórias."
Miguel Sousa Tavares
O que é uma linha de combóio, um autocarro ou um barco comparado à descrição literária dos mesmos? O que é a paisagem em si comparada ao que so pode escrever e sentir por causa do que se escreve dela?
A literatura de viagens é um género literário fascinante, capaz de fazer o próprio leitor viajar, sonhar, imaginar, sentir, etc.
Gosto de Sul: Viagens de Miguel Sousa Tavares. Por dois motivos. Não só o livro é fascinante e está bem escrito como também só gosto de viajar para o sul. Sempre para Sul.
Quando era pequenito e o meu pai dizía-nos que íamos passear para o norte, sei lá, para o Minho, Bragança, etc, só me apetecia vomitar. Detesto o Marão. A viagem enjoava-me e dava-me náuseas. Só queria ir para casa. Odeio quando a paisagem é sempre a mesma durante 10 kms. Odeio tudo o que é pinheiros, campos de milho e de girassóis - para mim, só com uma paulada na cabeça dada na portagem em Lisboa, para ir a dormitar sossegadinho até Lagos, é que consigo atravessar o Alentejo de carro) -, em suma: odeio o campo, pronto. Detesto montanhas, detesto piqueniques de todo o tipo, seja à sombrinha, seja num pinhal. Gosto do norte no que refere à gastronomia, por ex. A paisagem é bonita, claro, mas para aí durante 10m. O Gerês é maravilhoso mas para passar um fim de semana. No entanto, defendo que o Norte, o Alentejo e os Açores devem permanecer como estão, intocáveis pelo homem, no seu estado natural, durante o tempo que for possível. O Sul, sim, podemos «abandalhar» à nossa vontade, poluír, semear auto-estradas, prédios e estádios de futebol - enfim: estragar! O norte devería estar como está durante mais 5 séculos. Sería o ideal. O sul deve melhorar, claro. O norte devia ser a nossa amazónia privada, verdinha, impoluta, cheia de bichos selvagens ou em vias de extinção e rios limpos. Só se devia viajar para norte de barco e, para certas zonas, de helicóptero ou cair de pára-quedas. Em Portugal, o Sul devía ser a casa e o Norte o quintal. O Sul a fachada e o Norte as traseiras.
Só gosto do sul, de ir a para sul, de viajar para sul. Só gosto de civilização, cidades, barulho. As casinhas no norte, isoladas e com pastagens a abarrotar de vacas e cabras não tem tanto encanto, para mim, como dormir num hotel e comprar uns bifes do lombo num hipermercado. Gosto de pessoas. Gostar de cidades é gostar de pessoas.
Para mim o norte é rural, agrícola e aldeão; o sul é urbano, industrial, cosmopolita. Nós, Portugueses, nos últimos 500 anos sempre quisémos ir para sul, descobrir, sair, fugir, e morar. Desde D. Afonso Henriques que gostámos de ir para o Algarve em Agosto. Montados nas carroças, nas liteiras e nos burricos lá íamos, todos lampeiros e de marmita às costas, gozar 15 dias de férias a Albufeira.
Por isso adoro Sul Viagens de M.S.T. Gosto da palavra Sul. O norte tem o seu encanto cultural, paisagístico, filósófico e até poético, mas é para sul que vou sempre que posso e que sempre quis ir. Sul sempre foi o nosso objectivo, a nossa meta, o nosso karma. Em Portugal, quando viajo, a minha bússola aponta sempre o «sul magnético».
O norte pode ser um paraíso.
O sul é outra coisa melhor.
"Este é um livro de viagens, um livro de alguém que, como nos sonhos de infância, teve a sorte de partir tantas vezes com pouco mais que um saco de viagem e uma máquina de filmar ou de fotografar. (...) Nem sempre viajei
para sul, mas nada vi de tão extraordinário como o sul. O Sul é uma porta de avião que se abre e um cheiro inebriante a verde que nos suga, o calor, a humidade colada à pele, os risos das pessoas, o ruído, a confusão de um terminal de bagagens, um excesso de tudo que nos engole e arrasta como uma vaga gigantesca. Apetece fechar os olhos, quebrar os gestos e deixar-se ir. Mas é justamente neste caos que eu procuro a lucidez do contador de histórias."
Miguel Sousa Tavares
27.9.06
Eu e o Manuel aparecemos no Jornal Praça Pública de Ovar!!
No dia 9 deste mês, um sábado, lá ía com os meus amigos para Ovar quando, no lugar do Buçaquinho, deparamos com um autocarro atravessado no meio da rua, com a traseira encalhada na areia do pinhal, depois de várias tentativas frustradas por parte do condutor em fazer inversão de marcha naquele sítio. O condutor, atrapalhado, lá tentava arranjar soluções para desencalhar o gigante de ferro mas sem solução aparente. No autocarro vinha uma excursão da terceira idade que aproveitou para sentar-se nas cadeiras de praia e ver o «circo pegar fogo». Eu e o Manuel, numa foto tirada pelo nosso amigo Sandro, publicada pelo jornal Praça Pública, lá fomos «ajudar» a empurrar a camioneta. No fim do dia, passámos por lá, à vinda embora, mas já não havia vestígios do autocarro. De resto os velhinhos encontram-se a são e salvo no conforto dos seus lares da terceira idade.
Uma semi-aventura.
Foto: Praça Pública, Semanário de Ovar, Quarta-Feira, 20 de Setembro de 2006, pág 6.
Uma semi-aventura.
Ficou a foto para a posteridade.
Como se pode verificar na foto, o Manuel, num rasgo de ousadia herculeana, tentava levantar o autocarro; eu, no lado direito, posando para a foto, ao estilo Superman, tentava desencalhar a lata gigante, com um empurrão que se revelou ineficaz. Dois gestos teatrais numa foto com grande qualidade artística.Foto: Praça Pública, Semanário de Ovar, Quarta-Feira, 20 de Setembro de 2006, pág 6.
26.9.06
O que eu ando a ouvir! Clicar na música para ver o clip no youtube!
Transmission e She's lost Control dos Joy Division, duas belas canções do pós-punk de Manchester em 1979.
Lost in a melody dos The Delays, que descobri recentemente, e anda sempre no ouvido: aquele som tipo electro-anos-80 e uma atitude sempre a pedalar.
Suedehead de Morrissey, pós-Smiths, a solo no álbum Viva Hate. Era apenas o começo.
Munich dos Editors, uma banda com lugar de honra nas praleteiras da pop actual. Grande banda.
Hope there's someone de Antony and the Johnsons. Para nos roubar o coração, parti-lo e varrer os cacos para dentro da nossa alma.
Do you want to dos Franz Ferdinand. Pop fresca e alegre, party-pop. Todas as bandas querem ser Franz Ferdinand, mas não dá.
Bullet proof skin dos Institute, banda de Gavin Roosdale, ex-Bush, a fazer-nos lembrar porque é que gostavamos dos mesmos.
Dance me to the end of love, de Leonard Cohen, meu ídolo há anos, aqui num videoclip onde entra nada mais nada menos que Quentin Tarantino. Mais valia chamar-se Dance me to the end of muthafuckin' love!!....
Protection dos Massive Attack. Grande som dos pais do Trip-Hop.
The Richest Man In Babylon dos Thievery Corporation, os mestres da música «cool».
Lost in a melody dos The Delays, que descobri recentemente, e anda sempre no ouvido: aquele som tipo electro-anos-80 e uma atitude sempre a pedalar.
Suedehead de Morrissey, pós-Smiths, a solo no álbum Viva Hate. Era apenas o começo.
Munich dos Editors, uma banda com lugar de honra nas praleteiras da pop actual. Grande banda.
Hope there's someone de Antony and the Johnsons. Para nos roubar o coração, parti-lo e varrer os cacos para dentro da nossa alma.
Do you want to dos Franz Ferdinand. Pop fresca e alegre, party-pop. Todas as bandas querem ser Franz Ferdinand, mas não dá.
Bullet proof skin dos Institute, banda de Gavin Roosdale, ex-Bush, a fazer-nos lembrar porque é que gostavamos dos mesmos.
Dance me to the end of love, de Leonard Cohen, meu ídolo há anos, aqui num videoclip onde entra nada mais nada menos que Quentin Tarantino. Mais valia chamar-se Dance me to the end of muthafuckin' love!!....
Protection dos Massive Attack. Grande som dos pais do Trip-Hop.
The Richest Man In Babylon dos Thievery Corporation, os mestres da música «cool».
25.9.06
Cinefilia: V de Vingança
Este não é um filme do tipo "uma agradável surpresa" ou "excelente" ou "obrigatório". Não. Este é um filme «do caralho» mesmo. Politicamente incorrecto, V for Vendetta é uma obra-prima de grande qualidade, quer em arrojo quer em liberdade artística e cinematográfica.
23.9.06
Leonel e Luzia: As Fotos do Casamento
O noivo, junto ao carro, o Twingo do amor, visivelmente alegre com o aspecto vilipendiado da carripana. O que ele ainda não sabe é que o interior do carro está uma verdadeira lástima. Mas ele veio prevenido com facas de mato, lanternas, extintores, gruas e 300 kilos de material de bombeiros e sapadores... Para entrar dentro do carro foi preciso recorrer a técnicas ancestrais de arrombamento de veículos, tipo desvastação da floresta amazónica à catanada, ao estilo Indiana Jones. Eu e o Jorge colocamos balões na parte de trás, enchidos a plenos pulmões, já de si gastos a cantar Karaoke, e pintamos todo o carro como manda a etiqueta, com desenhos de genitália variada, frases estimulantes e de apoio sexual ao casal e, claro está, não podia faltar o fio de latas vazias a rastejar pelo chão a imitar o "dlim-dlim" característico do chocalho do gado bovino.
Enfim...
Nada que 348 lavagens não resolvam...
"Ei, como é que eu vou meter as mudanças nesta selva de fios??" Ó 'Mor, para a próxima vimos de casal duas famel zundapp 600 turbo."
"Ai que filhos da... ai já vão tirar fotos? Tá lindo o carro, tá, sim sinhori, brigadinho, eu depois mando a conta seus...."
Eu e o Jorge, a posar para a foto. Mais uma obra prima surrealista. Mas ainda estavamos muito longe do nosso objectivo: encher o carro com entulho da lixeira municipal e, com recurso a uma grua, colocá-lo no cimo duma árvore. Foram contra a ideia... Well... Next time...
Eu, para desmoer o bacalhau com natas, lá fui fingir que tocava para a fotografia. O Jorge apercebeu-se e perguntou-me se eu não estava mais habituado a tocar órgão?! Fingi que não percebi...
Elisabete e Luzia, a noiva.
Beta: "Isto do casamento é muito bonito mas depois somos nós a lavar a loiça."
Luzia: Tá calada, disfarça e ri-te para a foto!"
A Betinha e o Jorginho, os próximos a dar o nó, se tudo correr bem. Mas só daqui a um ano, o tempo necessário para encomendar duas paletes de viagra.
A Patrícia, na casa dos noivos, enquanto eles viajavam pelo país na lua de mel, punha, com as amigas, a casa totalmente em pantanas. A casa ficou de tal forma danificada que foi necessária a intervenção de 20 companhias de limpeza, 300 sapadores e duas gruas só para se poder entrar em casa e uma frota da força aéria para desinfestar com 10 pulverizadores os enxames de moscas que rodeavam a casa devido à lixeira acumulada. Avisa-se a população que os criminosos, segundo notícias da CNN, ainda continuam a monte...
Enfim...
Nada que 348 lavagens não resolvam...
"Ei, como é que eu vou meter as mudanças nesta selva de fios??" Ó 'Mor, para a próxima vimos de casal duas famel zundapp 600 turbo."
"Ai que filhos da... ai já vão tirar fotos? Tá lindo o carro, tá, sim sinhori, brigadinho, eu depois mando a conta seus...."
Eu e o Jorge, a posar para a foto. Mais uma obra prima surrealista. Mas ainda estavamos muito longe do nosso objectivo: encher o carro com entulho da lixeira municipal e, com recurso a uma grua, colocá-lo no cimo duma árvore. Foram contra a ideia... Well... Next time...
Eu, para desmoer o bacalhau com natas, lá fui fingir que tocava para a fotografia. O Jorge apercebeu-se e perguntou-me se eu não estava mais habituado a tocar órgão?! Fingi que não percebi...
Elisabete e Luzia, a noiva.
Beta: "Isto do casamento é muito bonito mas depois somos nós a lavar a loiça."
Luzia: Tá calada, disfarça e ri-te para a foto!"
A Betinha e o Jorginho, os próximos a dar o nó, se tudo correr bem. Mas só daqui a um ano, o tempo necessário para encomendar duas paletes de viagra.
A Patrícia, na casa dos noivos, enquanto eles viajavam pelo país na lua de mel, punha, com as amigas, a casa totalmente em pantanas. A casa ficou de tal forma danificada que foi necessária a intervenção de 20 companhias de limpeza, 300 sapadores e duas gruas só para se poder entrar em casa e uma frota da força aéria para desinfestar com 10 pulverizadores os enxames de moscas que rodeavam a casa devido à lixeira acumulada. Avisa-se a população que os criminosos, segundo notícias da CNN, ainda continuam a monte...
21.9.06
O Indy!
Um dos meus jornais preferidos de todos os tempos - O Independente - fechou as portas. Lembro-me que o "Indy" publicou, em Setembro de 2000, uma carta minha a elogiar o jornal quanto ao custo-benefício: Na altura custava 450 paus e trazia tanta coisa, tantos suplementos, enfim, era um verdadeiro festim. O director (e o melhor cronista português da segunda metade do séc. XX) e meu ídolo da Noite da Má-Língua, Miguel Esteves Cardoso, teve a amabilidade de publicar a minha cartita e achou graça quando lhe disse que até dava "mil paus" pelo jornal ao qual ele, ou alguém na redação, perguntou, no fim da carta, "Quando é que podes começar?" O melhor do jornalismo está nos anos 90. Sem dúvida.
Em maio de 1988, Miguel Esteves Cardoso (no meio), saído do Expresso e Paulo Portas (muito novo, com 25 anos, à direita) fundavam O Independente, o jornal de referência da direita anti-sistema, (alegadamente) conservadora, eurocéptica e pró-Portugal. Faço parte e fiz parte da chamada "Geração Indy", desde o cavaquismo até ao final do guterrismo, uma legião de fãs arrastada por este jornal e pelo génio do fenómeno MEC, que se confirmou neste jornal e na revista Kapa (1990-1992) .
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