O Swedish Chef dos Marretas é, talvez, a personagem mais engraçada, pelo menos para mim, de toda a história da animação infantil. São os trejeitos dele - os maneirismos, o discurso ininteligível(isto é, para quem não sabe falar sueco), o bigode farfalhudo, as colheres a voar pela cozinha fora, contra os móveis, o barrete branquinho, a maneira como a comida, que ele quer preparar com afinco, se revolta contra ele e dá luta ou foge da panela - que me encantam.
Adoro aquele sketch em que ele para fazer donuts atirava bolachas ao ar e dava tiros de caçadeira acertando mesmo no meio das bolachas. E também aquele episódio em que ele está a fazer uma mousse de chocolate e barra chocolate quente no focinho dum alce (alce=mousse), besuntando-o todo.
Enfim, tantos, tantos episódios embuídos dum humor inglês completamente nonsense tirado da mente genial de Jim Henson. A programação infantil, e as pessoas com mais de 30 anos sabem disso - desde Os Marretas, a Rua Sésamo, Era uma vez a vida, O Brinca Brincando, e até a programação infantil de leste de Vasco Granja, etc - nunca mais foi a mesma; deixou de haver quer uma componente pedagógica-didática ou mesmo lúdica na estética de criação de programas infantis, atendendo apenas a criação de personagens com uma lógica publicitária de mercado - veja-se o caso Noddy, Floribella, etc.
Se quiserem façam um simples exercício mental: Comparem o Tom Sawyer (inícios dos anos 80) com o Noddy (séc. XXI) e vejam ao que chegamos. É bom? É Mau? É natural que assim seja? Ficamos a perder ou a ganhar com o que vemos na caixa mágica?
A programação infantil actual, em todas as componentes, origens e evolução, bem analisada por investigadores competentes, talvez nos possa dar bons indicadores para proceder a uma caracterização séria sobre a situação do país em termos culturais. Não basta dizer que o país é atrasado, iletrado, etc. Vamos analisar o que nós viamos antigamente e o que as nossas crianças andam a ver nestes dias e talvez possamos ver o que se perdeu entretanto. E o que se ganhou. Pessoalmente duvido que se tenha ganho alguma coisa.
Aqui fica um medley de 15 minutos do nosso querido Swedish Chef, a cantar, a brincar com as suas comidinhas, a fugir de esparguetes assassinos e de lagostas pistoleiras, a encestar galinhas em cestos de basket, etc. Estavamos nos anos 80. Eu não digo «que saudades» dos anos 80 - digo apenas que há muito tempo que este país se perdeu. Ou se vendeu, não sei bem.
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