«Mas nom é o ermo ao solitário escola de reitórica pera bem falar, mas escola de vida pera bem viver; nem teemos mentes nem entendemos em a vãa grória da língua, mas em haver folgança frme da mente e da alma. Ca me nom esquece aquelo que disse Séneca filósofo: «Leixa todos os embargos e vaga pera haveres boa mente.» E nom acalça nengüu a boa mente, se for ocupado em negócios. E eu nom contendo nem digo que o ermo dá ao homem boa mente e boa vontade, mas digo e contendo que a vida apartada em o ermo conserva e guarda e ajuda muito a mente e a vontade boa.»
Booco Deleytoso Solitario, por Hermão de Campos, Capítulo XXX: Defesa da vida solitária,(impresso)1515.
Uma das obras mais marcantes da espiritualidade portuguesa medieval, de autor desconhecido, provavelmente um monge, escrito no Mosteiro de Alcobaça entre os finais do Séc. XIV e inícios do Séc. XV e impresso em Lisboa no ano de 1515. Cerca de setenta capítulos transcrevem a tradução da obra de Petrarca De Vita Solitaria. Os últimos quarenta e seis capítulos são originais.
Uma obra que realça a a eremitagem, o retiro, o «ermo» do bosco (bosque) como lugar solitário dedicado à união mística com Deus através duma vida de contemplação em detrimento da vida activa.
500 anos depois, cá estamos nós, os demónios continuam a ser os mesmos, bem como a necessidade de redenção do pecado. Aqui, no Bosque tranquilo e deleitoso, não há luta entre o bem e o mal: trata-se sobretudo de evolução espiritual e comunhão divina, onde há vários degraus a serem percorridos sendo o último patamar o da vida contemplativa, mais longe deste mundo e mais perto de Deus.
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